O blog “Desejo de viver” faz parte da minha missão de vida e é uma homenagem à minha mãe

Desejo de viver é o meu primeiro livro, publicado em 2016 no Brasil, e em 2017, num lançamento para a comunidade brasileira em Dublin, e foi o nome que escolhi para batizar meu mais novo projeto: o blog Desejo de viver, que nasce com o objetivo único de ser um espaço onde eu possa desenvolver aquilo que mais amo: a escrita. Nele, vou escrever contos, histórias, artigos, roteiros, crônicas e reportagens jornalísticas. Mas para que entendam como cheguei até aqui é importante explicar também como surgiu o livro e o porquê do nome.
O livro conta de maneira linear a história de lutas, de superação e de amor à vida de minha saudosa mãe Eliete Aparecida Gandolfi Cia, falecida em 3 de agosto de 2015, vítima de uma embulia pulmonar. Dois dias antes dela falecer numa ligação com uma de suas irmãs, Iracélia, ela confessou que sonhava que eu escrevesse um livro contando toda sua trajetória porque ela tinha certeza que essa obra inspiraria outras pessoas a nunca desistirem de viver.
Aos 36 anos de idade, minha mãe foi atropelada por dois rapazes menores de idade alcoolizados na cidade de Americana, interior de São Paulo. Eles conduziam duas motos em alta velocidade e tiravam um raxa e o atropelamento aconteceu justamente quando ela estava atravessando a rua- carregava um galão de água de um poço artesiano-. Com o impacto foi arrastada por uma das motos. Na época, eu tinha 18 anos e estava aprendendo a conduzir. Eu visualizei todo o acidente. Não tive tempo de fazer nada a não ser gritar, mas já era tarde e não foi impossível salvá-la da colisão.
Quando cheguei até ela a imagem era desesperadora. Ela estava toda machucada, ensanguentada, mal respirava, mas pegou forte nas minhas mãos e me pediu para ajudá-la a não morrer. No desespero de vê-la naquela situação, pedi para que alguém nos socorresse ao hospital mais próximo. Esse foi o grande erro, pois a colocaram de qualquer maneira em uma perua Kombi sem proteção de sua medula.
No hospital, meu pai, eu e minha irmã Isabela, então com 12 anos, fomos chamados pelo médico plantonista que nos disse que ela ainda estava consciente, mas que dificilmente resistiria aos ferimentos, e que se quiséssemos podíamos entrar e nos despedirmos. Escutar aquilo machucou no fundo da alma. Eu não aceitava perdê-la daquela maneira. Nós precisávamos dela. Nossa mãe era a fortaleza de toda família. Sem ela não haveria mais nenhum sentido.
Me recordo que ela pegou no mão do médico e disse a ele que Deus havia criado a medicina para salvar vidas e que primeiro era a mão de Deus que ia operar um milagre, e segundo, que Deus ia dar forças e sabedoria para que ele a salvasse da morte. “Eu quero viver. Não importa como, mas não me deixa morrer”.
A frase impactante ficou para sempre guardada nas nossas lembranças. Creio que naquelas quase13 horas de cirurgia aquele médico se agarrou na força e na fé da minha mãe e em nome do seu amor à profissão mais do que nunca quis salvar aquela vida. Graças a Deus, minha mãe foi salva da morte, mas ficaram sequelas. O acidente a deixou sem movimentos. Os médicos acreditavam que ela ficaria paraplégica, mas sua força de vontade e seu desejo de viver eram tão grandes que menos de 4 meses após o acidente ela estava sentando numa cadeira de rodas para assar o pernil de Natal. Era seu aniversário e nunca mais esqueci aquela noite por uma série de coisas que aconteceram depois.

E minha mãe viveu uma linda história de superação. Passou por diferentes doenças, por um câncer, teve que fazer diferentes operações, tratamentos, teve muitas crises, mas nunca desistiu de lutar. Ela lutou até o seu último suspiro de vida e mesmo quando se foi ainda quis deixar seu legado para outras pessoas, por isso, não haveria outro nome para esse blog.
Quero ressaltar que minha missão ainda não terminou. Vou levar esse livro adiante e ainda sonho em escrever um roteiro de cinema. Sua história é daquelas que nos fazem acreditar no poder transformador da vida e do amor. Minha mãe respirava isso em todos os seus poros.


2 Comments
Dani Lapidus
Grata por conhecer a história da sua mãe. Faz-nos pensar que as experiências estão sempre nos ensinando alguma coisa importante para a nossa evolução. O Blog tem ótimos conteúdos.
Andreia Alemar
Por isso você essa pessoa incrível, porque teve muito amor dentro de casa e uma inspiração de uma guerreira que com certeza ainda te acompanha.