Arquiteta dos sentidos e das lentes

André Luis Cia

andre.cia@hotmail.com

MADRID: De suas mãos, ela cria arte em dois campos diferentes: no visual e no olfativo. Faz com que as pessoas sintam e se deliciem com os aromas e se vejam retratadas por meio de suas imagens. Empreender era um desejo antigo, até então, guardado dentro de seu coração. No entanto, a pandemia há dois anos fez com que ela aflorasse todos os seus sentidos criativos e se transformasse numa empreendedora. Essa é Monique Mello, arquiteta e fotógrafa, a segunda convidada da série “Lentes brasileiras na Espanha”, que contará a cada semana o perfil de uma mulher brasileira empreendedora em solo espanhol.

Segundo Monique, o sonho de viver na Europa era algo antigo, principalmente por ela ser uma arquiteta apaixonada por história, mas ela sabia que do sonho à realidade haviam obstáculos e não era algo tão fácil de ser concretizado, mas quis o destino atravessar sua história e colocar um amor no meio do caminho: o noivo Paul. Isso a fez mudar definitivamente sua jornada. “Encontrei o Paul e ele também tinha esse desejo de imigrar. Então decidimos vir juntos a partir de uma proposta profissional que ele teve para trabalhar em Madrid”.

Ela conta que Paul teve que providenciar a mudança do Brasil para a Espanha em menos de um mês, e quatro meses depois ela desembarcava na capital espanhola. “A oportunidade bateu na nossa porta e não pensei duas vezes ao abraçá-la”, destaca.   

Paulista de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, Monique vivia no Rio Grande do Sul quando tudo aconteceu. Em 2016, ela trabalhava no seu escritório no Brasil como arquiteta e se dedicava a criar projetos residenciais, comerciais e corporativos. O tempo era totalmente dedicado aos seus clientes, mas o desejo de empreender em uma área nova já pulsava fortemente em sua mente e em seus desejos mais secretos, mas não lhe sobrava tempo. E a chegada da pandemia e do isolamento social a fez vislumbrar uma nova oportunidade que se abriu diante de seus olhos: fabricar velas artesanais. “O ritmo desacelerou e na minha casa mesmo comecei a fazer velas como hobby”.

Com a mudança para a Europa em setembro de 2020, ela relembra que ficou encantada com a diversidade de produtos de cuidado com a casa, principalmente neste ramo de velas. “Me lembro de passar adiante da loja Loewe e quando vi as velas candelabro me apaixonei e tive a ideia de leva-las para o Brasil”. 

E foi assim que surgiu a ideia de montar um ecommerce no Brasil para a produção de velas. Monique explica que foi em busca dos fornecedores e das formas, e que também criou uma logo e um site. Tudo foi idealizado em apenas duas semanas porque ela retornaria para o Brasil em fevereiro de 2021 para buscar seu cachorrinho de estimação: Adam. Nos 25 dias que permaneceu no Brasil aproveitou para produzir material para deixar um estoque de velas pronto para comercialização.

Com o tempo e com o negócio prosperando no Brasil mesmo com algumas dificuldades no meio do percurso, ela destaca que sentia falta de ter o “filho”, no caso, as velas, por perto. 

Em que momento você decidiu trazer as velas para a Espanha?

Monique: Fazê-las me acalma e me deixa feliz. Com o incentivo de meu noivo e de amigos decidi trazer minha marca (Nous) para cá, em outubro de 2022.  Hoje, eu mesma as produzo em um processo artesanal feito à mão com ingredientes não tóxicos e naturais. Sempre amei cuidar da minha casa e a dos meus clientes. A Nous nasceu com o intuito de elevar a conexão das pessoas a seus ambientes. Crio cuidadosamente os aromas que incorporam nossas fragrâncias. Alinhar design à experiência é a missão da minha marca.

Como é feita a comercialização das velas?

Monique: Hoje, as vendas aqui na Espanha são feitas pelo Instagram da loja: @nous.velas . Em breve, serão comercializadas no site. Paralelo a isso, também mostro a rotina com a casa, dou dicas de arquitetura e autocuidado no meu perfil pessoal @moniquemello. Agora em fevereiro, a Nous completa 1 ano de vida e estou muito feliz e empolgada com os desafios de 2023.

Paralelo à Nous, você está em transição de carreira. Conte como está sendo esse desafio.

Monique: Estou me tornando uma fotógrafa de arquitetura. Isso também iniciou durante a pandemia e hoje estou podendo realizar de fato essa mudança.  O ano de 2020 foi decisivo na minha vida e na de muitas pessoas. Eu precisava de um tempo realmente para visualizar a minha vida. Com a mudança de país parece que tudo mudou para melhor. Como dizem aqui na Espanha, “poco a poco” e isso faz todo sentido. Estou curtindo esse processo, com todos os seus desafios e com a certeza de todas as partes boas de ser uma empreendedora.

Como tem sido sua adaptação à Espanha?

Monique: Sempre pensei em morar aqui. Acredito muito na lei da atração. De uma maneira ou de outra minha vida se encaminhou para essa mudança. A Espanha me surpreendeu desde o primeiro dia. Cheguei à Madrid em setembro de 2020. A segurança, o estilo de vida, a cidade simplesmente funciona e é multicultural. De negativo, aponto a comida espanhola, pois prefiro mil vezes a nossa brasileira. Meu processo de adaptação foi mais difícil no primeiro ano. São muitas mudanças internas e externas. Acredito que o idioma foi o mais complicado. Tinha muita vergonha de falar no início, mas hoje isso já ficou no passado e estou pronta para todas as conquistas que essa vida de empreendedora me proporcionará ainda.

Jornalista, roteirista, escritor e ator brasileiro com mais de 20 anos de experiência em comunicação.Vivo atualmente em Barcelona onde trabalho como correspondente internacional, mas já morei em outros países, como Portugal, Irlanda, EUA e Itália onde sempre estive envolvido com projetos na área de comunicação- minha grande paixão-.Como roteirista, destaco a coautoria na sinopse e no 1 capítulo da novela "O Sétimo Guardião" (TV Globo/2019), o documentário "Quem somos nós?", sobre exclusão social, e o curta-metragem "As cartas de Sofia".Como repórter, trabalhei em grandes grupos de comunicação no Brasil, como RBS, RAC e RIC. Ganhei o prêmio Yara de Comunicação (categoria impresso) em 2013 com uma reportagem sobre as diferentes famílias e histórias de vida às margens do rio Piracicaba (SP). Fui finalista do prêmio Unimed de Jornalismo/SC com uma reportagem sobre gravidez precoce.

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