“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”. A frase mais famosa do poeta português Fernando Pessoa se encaixa perfeitamente ao destino da brasileira Giseli Cabrini que se dedica a ensinar português a pessoas de todo o mundo. “O nosso idioma é lindo! Amem nossa língua e valorizem o português”, diz.

Aos 11 anos, ela escreveu que: “não precisávamos de heróis, como Dom Pedro, porque éramos heróis das nossas próprias vidas”. A inspiração para a escrita que lhe rendeu o primeiro lugar em um concurso de redação sobre a Semana da Pátria veio após a leitura de “David Copperfield”, de Charles Dickens. Como prêmio, a ainda menina Giseli Cabrini teve a honra de ler seu trabalho na principal rádio de uma cidade localizada no interior de São Paulo. Mas, a paixão pelas letras já era “coisa antiga”. Precoce, três anos antes, aos nove, havia se matriculado em segredo- contou com a ajuda da avó materna- em uma escola de datilografia-, pois queria aprender a escrever e seu pai a havia proibido de tocar na máquina antes que ela tivesse um diploma. Determinada, com apenas três meses de estudo já estava formada. Ainda na infância, dava aulas para as bonecas utilizando uma pequena lousa de brinquedo. Com o passar do tempo, o jornalismo também foi ocupando espaço no seu coração ao lado do magistério. Hoje, ao revisitar seu passado, Giseli se orgulha pela história construída e perpetuada anos atrás e que a levou para um projeto inesperado em sua trajetória: o de ensinar português para estrangeiros. De 2012 até o presente, foram mais de 150 alunos que aprenderam português pelas suas mãos. Os estudantes estão distribuídos por diferentes continentes: América, África, Oriente Médio e Ásia. Mélanie e Mario são dois destes estudantes. Ambos se mudaram para o Brasil por diferentes razões, mas carregam, hoje, no peito, as boas lembranças, e compactuam da mesma sensação: o despertar da paixão pelo Brasil e pelo nosso idioma (conheça a história de ambos abaixo). “Busque um idioma com o qual você se identifica, bem como um professor e uma metodologia que combinem com a sua personalidade. É como no amor: precisa “dar match”!”, explica Giseli . Ela se orgulha da trajetória construída até aqui, principalmente pela oportunidade de ensinar nossa cultura por meio do ensino do português a diferentes nacionalidades. “Eu me emociono a relembrar cada um dos meus alunos espalhados pelo mundo. São diferentes histórias conectadas a um mesmo propósito”.
NOTA DA EDIÇÃO: O projeto pedagógico de Giseli vai de encontro à minha série especial DIÁRIO DE UM IMIGRANTE, pois ambos têm imigrantes pelo caminho, falam sobre sonhos, da abertura de novas fronteiras graças ao aprendizado de um novo idioma e de novos recomeços possibilitados pela língua. Por essa razão, não tive dúvidas ao convidá-la orgulhosamente para essa matéria especial no meu link de CORRESPONDENTE. Eu, diretamente da Espanha; e ela, no Brasil, conexões, caminhos e destinos que se cruzaram com um único objetivo: falar sobre os sonhos e de como eles são possíveis para aqueles que creem e ousam sonhá-los.
Como e quando foi o seu despertar para o mundo das letras? Você era uma criança e adolescente que gostava de ler?
GISELI: Eu sempre amei ler. E, por sofrer “bullying”, muitas vezes, os livros tornaram-se meus melhores amigos. Além das bibliotecas das escolas, onde eu estudava, e da cidade, nós tínhamos uma dentro de casa. Minha mãe também é professora de português e inglês. Tínhamos uma variedade enorme de livros. Mas os meus favoritos eram livros antigos que herdamos do meu avô materno: as enciclopédias “Curiosidades” e “Trópico”. Eu adorava também a Série Vaga-Lume e a dobradinha da Condessa de Ségur: “Os desastres de Sofia” e “Meninas Exemplares”. Eu lia de tudo: dos clássicos até bula de remédio. Eu também era apaixonada por poesia e sempre ganhava os concursos da escola.
E quando te faziam a clássica pergunta : “o que você vai ser quando crescer?”, qual era a sua resposta?
GISELI: Eu nasci em Tupã, interior de São Paulo. Sou a caçula de um casal que teve três filhas. Meu pai era gerente do antigo Banespa. Por isso, nós nos mudamos para Gália (SP) e, depois, a gente se estabeleceu em Araras (SP). Aos, 17 anos, eu me mudei para São Paulo para fazer faculdade. E, em 1997, quando passei na prova da Folha de São Paulo, fui morar em São José dos Campos. Fiquei lá até o ano 2000 e retornei a Sampa, que é o meu lar, a cidade onde o meu coração está. Curiosamente, quando eu era pequena, todos os anos, íamos para o Guarujá de férias. Sempre que passávamos pela marginal, eu apontava o dedo para o prédio da Abril e dizia: “um dia, eu vou trabalhar ali”. Imagine a emoção que senti quando isso tornou-se realidade? Eu me senti como a Jane Sloan, no primeiro episódio da série “The Bold Type”.
O que te levou a cursar jornalismo? Você fez outra graduação? Trabalhou como jornalista?
GISELI: Eu sempre amei ler e escrever. Aos 10 anos, eu e mais duas colegas de sala idealizamos e coordenamos o primeiro jornal infantil da nossa escola. Curiosamente, nós três cursamos Cásper Líbero (universidade). Eu decidi estudar jornalismo, aos 15 anos, depois que minha mãe me convenceu a não fazer o antigo Magistério. Então, essas duas vocações sempre estiveram presentes. Eu trabalhei 100% como jornalista de 1995 a 2012. Atuei em jornais, revistas, sites e redes de TV. Criei uma TV corporativa: a Fecomercio TV, quando fui vice-gerente de comunicação da federação. Trabalhei com comunicação interna na NET Serviços. Durante minha carreira como jornalista, trabalhei em grandes redações, como Folha de São Paulo, Editora Abril e Gazeta Mercantil. Também atuei na mídia regional, no antigo Vale Paraibano. Fui editora de Agronegócios do DCI. Trabalhei ainda no Diário do Comércio e no Grupo Padrão. Atualmente, ainda atuo como jornalista, mas só como freelancer. Desde 2012, eu faço frilas para a revista SuperHiper. Graças a esse trabalho, tive a oportunidade de cobrir eventos internacionais na França, como o “SIAL Paris” e uma “road trip” realizada pela Interfel – Les fruits et légumes frais junto com outros jornalistas brasileiros e colombianos. Comecei a cursar Comércio Exterior pela Unip, mas como eu trabalhava como editora na época, não consegui terminar. De 2005 a 2008, felizmente, eu consegui concluir meu mestrado em Ciências Políticas pela PUC-SP. E, em 2018 depois dos 40 anos, eu concluí minha segunda Graduação em Letras – Português pelo Centro Universitário – Claretiano.
Como foi essa migração do jornalismo para a área de educação? Quando você teve esse despertar?
GISELI: De 2010 a 2012, eu passei por um inferno astral no meu trabalho como jornalista. Foram dois anos de assédio moral em diferentes empregos a ponto de quase desenvolver “burnout” (síndrome de desgaste profissional). Eu tinha acabado de me casar e com apoio do meu marido decidi tirar um ano sabático. Como eu estudo idiomas desde os seis anos (minha mãe foi minha primeira professora), avisei a escola onde estudava inglês que teria de parar as aulas. A dona de lá me conhecia e me perguntou se eu tinha vontade de dar aulas de português para estrangeiros. Eu aceitei o convite. Fiz os testes. Passei e comecei minha jornada por meio da Idiomas “To Go”, onde trabalhei por 11 anos até fevereiro de 2023. Como eu não era formada em Letras, fiz todos os cursos possíveis de especialização em diferentes escolas. Mas gostaria de destacar o apoio e o carinho que recebi da Torre de Babel, que é referência em PLE, a sigla que usamos para o ensino de Português como Língua Estrangeira. Também tenho capacitações ministradas pelo Instituto Singularidades e pelo Centro Paula Souza (que são referências na área educacional), além de um curso de Neurociência Aplicada à Educação. Eu amo estudar e sempre que posso, participo de cursos, oficinas e workshops. Em plena pandemia, em 2020, fiz o curso de Design Instrucional da Editora Unesp, obviamente, na modalidade EAD.
E como surgiu a ideia de ensinar português para estrangeiros?
GISELI: Nesta jornada desde 2012 ensinando português, conheci e tive contato com alunos de todas as idades: crianças, adolescentes, adultos e pessoas com mais de 60 anos. Ensinei a pessoas de diferentes religiões: seminaristas, padres, pastores, budistas, hinduístas, judeus e mulçumanos. Tive um grande desafio quando ensinei um aluno estrangeiro com dislexia. Eu comecei com poucas classes. Essa minha busca incessante por capacitações me levou a me especializar no preparo de candidatos para o “Celpe-Bras”, exame oficial de proficiência em língua portuguesa do Brasil. Participei de um congresso internacional sobre idiomas e fiz um curso sobre o Celpe com a professora Graziela Forte. Desde então, todos os candidatos que preparei foram aprovados. Cheguei a realizar um workshop sobre o Celpe-Bras na escola onde trabalhava e, também, treinamentos sobre o exame para outros professores de lá. Sempre gostei de inovar. Então, gostava muito de trabalhar com materiais autênticos, ou seja, que eu mesma criava. A aceitação e os resultados eram tão bons que comecei a criar programas para cursos intensivos na escola onde trabalhava. Também participei como avaliadora e entrevistadora em processos de recrutamento e seleção de outros professores. Outra experiência interessante que tive foi criar metodologias para nivelamento de alunos de acordo com o Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (CEFR) e aplicá-las diretamente em um projeto da escola, onde trabalhava, com alunos de graduação e pós-graduação da FGV.
Hoje, você acumula centenas de alunos espalhados pelo mundo que graças ao seu trabalho falam português. Qual o perfil destes alunos e o que os leva a buscar o aprendizado do português?
GISELI: Tanto na escola onde trabalhava quanto agora, com minhas aulas particulares, em geral, meus alunos ficam muito tempo comigo. Cheguei a ter alunos que ficaram ou estão comigo há mais de cinco anos. Isso é bem incomum quando pensamos em cursos de idiomas. Em relação à minha metodologia, mais adiante, vou revelar uma novidade. Creio que meu diferencial é inovar, sempre. E customizar as aulas, de acordo com o perfil de cada aluno, sua nacionalidade e seu objetivo ao aprender a língua portuguesa. Eles buscam o português pelas mais diversas razões, mas a principal delas é porque precisam do idioma para viver, estudar e ou trabalhar no Brasil. Outra razão, muito comum, é aprender a língua portuguesa por motivos do coração: boa parte deles tem um parceiro/ parceira brasileiro ou brasileira. Ou são filhos de brasileiros.
O trabalho que você realiza também é voltado para brasileiros? Neste caso, seria aprimorar o idioma, melhorar a escrita?
GISELI: Então, ao longo de todos esses anos, eu tive duas alunas brasileiras. Uma delas, tornou-se empresária. Ela é CEO e fundadora da Legis Consultoria, uma empresa com atuação internacional. Curiosamente quando eu decidi empreender e fazer do português o meu próprio negócio, ela me chamou e me convidou para uma parceria. Foi assim que resolvi também agregar isso ao meu portfólio. Desde março, temos encontros mensais nos quais eu compartilho dicas sobre português corporativo. Mais adiante, vou falar um pouco sobre outras novidades em relação ao ensino de português para brasileiros. O problema dos brasileiros é que a maioria não valoriza o próprio idioma. Acha que empregar dinheiro para aprimorar a fala e a escrita é gasto e não investimento. É um trabalho mais árduo convencer um brasileiro a investir nisso, mas eu sigo confiante. Afinal, pesquisas de empresas especializadas em recrutamento e seleção, como Catho e Gufi RH, mostram que erros de português fecham portas em processos seletivos.
Além do português, você ensina outros idiomas também? Qual a importância do português a nível mundial? Que portas ele pode abrir?
GISELI: Não. Eu ensino só português. Eu falo inglês e espanhol. Atualmente, como tenho muitos alunos franceses e em virtude das minhas viagens à França por causa do jornalismo, eu decidi aprender o idioma via Duolingo. Mas meu francês é muito básico ainda. Curiosamente, ao aprender francês, eu acabei melhorando muito o meu conhecimento sobre italiano, idioma dos meus avós paternos, mas que eu nunca aprendi formalmente. Quem sabe mais para frente, não é? Um relatório sobre o estudo de idiomas ao redor do mundo, divulgado em maio deste ano, revelou que o português se tornou a oitava língua mais procurada na plataforma. Além disso, a língua portuguesa é o idioma oficial em nove países: Portugal, o Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, a Guiné-Bissau, a Guiné-Equatorial, São Tomé e Príncipe e o Timor Leste. Quase 300 milhões de pessoas têm o português como língua oficial. Só no Brasil, somos mais de 210 milhões de falantes. Ter o Celpe-Bras é essencial para estrangeiros que queiram se naturalizar, validar diplomas, conseguir bolsas de estudo em universidades ou obter registro profissional, como o Corecon, caso de um economista.
Quais foram as experiências mais gratificantes até hoje ou que te emocionaram neste trabalho?
GISELI: Nossa, foram tantas. Eu ainda me emociono ao lembrar. Eu ajudei um aluno chinês de sete anos a aprender a ler em português. Asiáticos, em geral, trocam o “L” pelo “R” e isso estava dificultando que ele aprendesse os encontros consonantais. Em três meses, usando cartas de Pokémon, ele começou a ler. Eu me lembro até hoje quando, ele leu a palavra “banheiro” pela primeira vez. Teve um aluno estadunidense que me pediu para ajudá-lo a escrever os votos do casamento dele em português porque a esposa é brasileira. Nós treinamos e ele me convidou para o casamento. Imagine o quanto chorei quando ele falou os votos. Enquanto ele falava, eu repetia baixinho. Foi realmente, demais. Reencontrar duas alunas em Estrasburgo, na França, também foi algo maravilhoso. Elas saíram de seus países natais, a Alemanha e a Suíça, só para me encontrar. Houve também um seminarista muito tímido, de Gana, que quase não falava literalmente. Nós fazíamos aulas híbridas, nos formatos: online e presencial. Eu falava e ele só ficava me olhando. Aos poucos, eu o incentivava para que ele saísse de seu casulo. Ao fim das nossas aulas, ele já estava seguro de si. Ia até a lousa e me ensinava coisas sobre a religião católica. Quando ele participou de uma vivência na Amazônia, me mandou um vídeo de uma palestra que fez para a comunidade local. Eu terminei de assistir aos prantos. Tive também uma aluna mulçumana, que falava pouquíssimo português. Em um ano e meio, ela decidiu aprender artes. Atualmente, ela é uma artista plástica conhecida com presença ativa nas redes sociais. Já realizou exposições até em galerias famosas de São Paulo. Outra experiência muito gratificante foi ter dado aulas para o Mario, que na época era professor de espanhol. Atualmente, ele é o fundador do Instituto Mundo Idiomas. Ou seja, tornou-se meu “chefe”. Temos uma parceria tanto para aulas de português para estrangeiros quanto de português corporativo.

Como você acredita que o ensino de idiomas pode contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva?
GISELI: A tecnologia tem facilitado muito a comunicação entre as pessoas. O ChatGPT é uma prova disso, mas no dia a dia, quando você precisa falar, o idioma ainda é uma barreira. Então, aprender línguas é algo fundamental num mundo cada vez mais globalizado. Eu recomendo que todos estudem idiomas, mas façam isso não por obrigação ou necessidade. Há várias correntes da psicologia da educação que provam que sem afeto, isto é, envolvimento, o processo de ensino e aprendizagem não acontece. Então, busque um idioma com o qual você se identifica, bem como um professor e uma metodologia que combinem com a sua personalidade. É como no amor: precisa “dar match”! E, aos brasileiros, faço um apelo: amem nossa língua e a valorizem. O português é lindo e pode, sim, ser divertido!
Como estão os seus projetos futuros? Há um livro pelo caminho, e a sua empresa Giseli Cabrini: português para brasileiros e estrangeiros como funcionará?
GISELI: Eu não posso dar muitos detalhes, mas até o fim de 2023 vou lançar meu primeiro livro de português para estrangeiros. É uma proposta inovadora para alunos, professores e escolas. Aguardem! Infelizmente, por questões contratuais com a minha editora, a Poligrafia, só posso mesmo dar esse “spoiler”. Estamos finalizando os últimos ajustes para o lançamento do Curso de Português Corporativo com a Tabula, um marketplace de cursos online com foco em videoaulas. E, como já mencionei, existe essa parceria com o Instituto Mundo Idiomas, que me deixou muito feliz.
Em janeiro de 2022, eu lançava as sementes do meu sonho de empreender ao participar do The Global Links Initiative. Não havia nem empresa. Só um projeto relacionado a materiais de português para estrangeiros, que acabou dando origem ao livro que lançarei este ano. Com a ajuda da minha incrível mentora, Marcela Marques, a ideia saiu do papel. Em fevereiro deste ano, decidi criar a minha empresa. Nascia, a “Giseli Cabrini: português para brasileiros e estrangeiros”. O objetivo é simplificar o ensino e a aprendizagem da língua portuguesa de modo que falar e escrever neste idioma seja feito de forma natural, segura e confiante. Vem muita coisa por aí: sou ariana, com ascendente em Libra. A mistura entre fogo e ar só pode resultar nisto: uma explosão de ideias e projetos.

DE ESTUDANTE A DONO DE ESCOLA DE IDIOMAS
Formado em Letras e Pedagogia, o argentino Mario Fabián Gadea, de 58 anos, se mudou para o Brasil (São Paulo), em 2014, onde começou a trabalhar como professor de espanhol em uma escola paulistana. Foi nessa época que conheceu a jornalista e professora Giseli Cabrini que dava aulas de português na mesma escola. A decisão de mudar-se para São Paulo foi em função da transferência de seu companheiro para o Brasil. “Confesso que achei uma cidade movimentada, com uma quantidade enorme de pessoas, muitos veículos. É algo que apavora um pouco no início, mas fazia parte do meu processo de adaptação”, explica Gadea.
A decisão de aprender português nasceu da necessidade de se comunicar melhor com os estudantes brasileiros nas escolas onde ministrava aulas de espanhol. “Foi assim que acabei contratando a Giseli como minha professora de idiomas e ficamos juntos pouco mais de um ano”.
Dois anos depois de ter estudado e aprendido o idioma, Gadea vislumbrou a possibilidade de abrir sua própria consultoria de idiomas, nascendo assim o “Instituto Mundo Idiomas”. Inicialmente, ele começou dando aulas de espanhol para empresas, mas com a procura de interessados em outros idiomas, como inglês e italiano, por exemplo, decidiu ampliar o leque de cursos. E por essas reviravoltas e coincidências que só o destino se encarrega de proporcionar, um dos profissionais contratados em sua escola foi justamente sua antiga professora: Giseli, que dá aula de português para estrangeiros- mesmo curso que ele havia feito no passado.
Atualmente, a escola conta com empresas e clientes de vários países. Um dos diferenciais são os cursos online. Apesar de ter se divorciado há quatro anos, Gadea ressalta que decidiu permanecer no Brasil em função do posicionamento alcançado por sua marca, e que mesmo na pandemia não sofreu grande impacto. “Como tudo estava funcionando online, conseguimos ficar mais perto das necessidades das pessoas que procuravam por cursos para ocupar seu tempo, melhorar e aprimorar diferentes idiomas. E foi assim que seguimos crescendo. Tenho muita gratidão e orgulho de morar neste país maravilhoso que me abriu as portas e o coração. Seguirei firme e forte aqui brindando pelo melhor e pelas coisas que estão ainda por vir, mas me apaixonei por esse país também”.

“BUSCO ENCONTRAR AQUI O QUE PERDI DO BRASIL AO VOLTAR PARA FRANÇA”, diz Mélanie
A mesma paixão pelo Brasil destacada pelo argentino Mario Fabián Gadea, foi compactuada pela francesa Mélanie Lacuire, de 39 anos. Em 2018, sua vida sofreu uma reviravolta ao receber um convite da Embaixada da França, em São Paulo. Ela não conhecia o Brasil, não falava nada de português e não tinha nenhum amigo no país, mas nada disso foi visto como um obstáculo, pelo contrário. Ela encarou a oportunidade como um grande desafio de ter uma experiência de vida diferente e de vivenciar uma cultura totalmente diferente da sua. “Foi, sem dúvida, uma das melhores experiências da minha vida e carrego o Brasil dentro de mim. É um vínculo que nunca mais será rompido”, disse.
Atualmente, Mélanie vive em Marsella, na França, e trabalha no porto (setor da alfândega). Ao ser questionada sobre a sua experiência brasileira, não titubeia ao dizer que o que a atraiu no Brasil foi a chance de estar em contato com outro idioma, conhecer novos hábitos, a cultura, a gastronomia, e que tudo isso a deixou apaixonada. “Conheci a Giseli em setembro de 2018, e foi paixão à primeira vista. Ela me ensinou tudo o que eu sei de português, e gostei tanto de suas aulas que mesmo após ter retornado à França, sigo estudando uma vez por semana”.
Apesar de sua rotina francesa, Mélanie diz que faz questão de manter os vínculos com o Brasil. Ao menos uma vez por semana vai a um restaurante brasileiro em sua cidade para matar saudades da nossa culinária. “Peço tapioca, moqueca, farofa, pão de queijo e tudo que me faça lembrar do Brasil”. Além disso, diz que escuta músicas brasileiras, podcasts, vê filmes e séries (está revendo pela segunda vez “Coisa mais linda”), e fala toda semana com seus amigos brasileiros. “Eu não deixo o Brasil sair de mim. Tudo o que posso eu consumo da cultura de vocês”.
Apaixonada por idiomas, ela conta que aprendeu sua primeira língua estrangeira, russo, aos 11 anos, idioma que estudou por14 anos seguidos. Então, quando decidiu aceitar o convite para viver no Brasil traçou uma meta de fazer uma total imersão na cultura local. Tanto esforço lhe trouxe um ótimo resultado, pois conseguiu obter um nível avançado de português (C1) em um exame de proficiência de idiomas. “Mesmo voltando a viver na França, eu vivo buscando aqui um pouco do que perdi do Brasil ao retornar para o meu país. Isso prova o quanto essa experiência brasileira foi importante para mim”. Até o final deste ano, Mélanie pretende quitar essa saudade acumulada, pois está planejando uma viagem de férias ao Brasil. “Sou apaixonada por esse país e por tudo o que vivi ali durante três anos”.



One Comment
Ernesto Righetto
André brilhantwe narreativa do progresso magnifico de Gisele em se especializar em BRASIL, quando a maioria busca especializações de fora, Achei maravilhosa a acensão e dedicação a lingua portuguesa. Parabens Gisele pela sua brava e dignificante luta.