Diário de um imigrante- Cap 21-

Viver em Nova Iorque foi um sonho que pude realizar graças à minha nova aventura de imigrante em 2014.

Pouco a pouco fui me adaptando à minha “nova vida americana”, mas realmente o ritmo deles me assustava e me incomodava muito, principalmente o desespero em ganhar dinheiro. É por isso que a célebre frase “time is money” era tão levada a sério pelos americanos e incorporada à rotina dos estrangeiros que começam a viver ali. Os EUA era o país das mil e uma oportunidades e se você está disposto a trabalhar sempre terá algo para fazer e voltará para casa com seus dólares no bolso. Lá, eles pagam por hora. Mas, como eu havia escolhido uma época complicada, o inverno, as chances de conseguir um trabalho ilegal era muito difícil. O meu último emprego havia sido no petshop e eu não me arrependia de ter saído porque minha saúde e segurança estavam em primeiro lugar.

Só que eu sempre fui hiperativo e não conseguia ficar parado.  Sempre estou fazendo uma coisa e minha mente já está voando para novos horizontes e projetos. Não tenho dúvidas que devo isso à literatura. Desde muito pequeno eu já devorava os livros e gibis. Meu personagem de toda vida é o Peter Pan. Sou apaixonado por ele, e creio que levo muito do seu espírito em mim: um menino que precisava crescer, mas sem perder a alma de criança.

Já disse aqui num dos capítulos anteriores que fui “batizado”, assim como muitos de minha geração, pela maravilhosa Coleção Vagalume, que nos presenteou com obras como “Éramos Seis”, de Maria José Dupré, e que foi adaptada 5 vezes para a TV.  Eu vi as duas últimas versões: a do SBT, em 1994 e da Globo, em 2019,  mas sem NENHUMA DÚVIDA, mesmo sendo fã incondicional da atriz Gloria Pires, na minha opinião, a Lola (matriarca da família), vivida por Irene Ravache, é uma das melhores e mais cativantes interpretações que temos na teledramaturgia brasileira. Não havia um capítulo que eu não me emocionasse. O texto, escrito pelos autores Rubens Ewald Filho e Silvio de Abreu era de uma sensibilidade ímpar, e a novela fala do amor incondicional de uma mulher pelos filhos e pela família, e isso sempre remeteu à minha mãe, e hoje, 3 de agosto, que é um dia muito triste para mim, pois há exatos oito anos eu perdia minha amada mãe, a dona Lola é uma homenagem à ela também que até seu último suspiro lutou por mim e minha família.

Dona Lola (Irene Ravache) é a homenagem de hoje à minha saudosa mãe
Novela “Éramos Seis” (SBT), inspirada no romance homônimo de Maria José Dupret me faz recordar de minha amada mãe
Três das Lolas juntas: Irene Ravache, Nicete Bruno e Glória Pires se encontraram na gravação do último capítulo da versão de 2019 da TV Globo. Foto Divulgação

Estar em outro país, vivenciar uma cultura diferente da minha era algo que me fascinava, pois quanto mais diferente fosse de mim, mas aquilo me encantava. Era como um ima. Eu amava quando ia trabalhar nos finais de semana como animador de festa e descobria que era uma cultura que eu não conhecia. Aquilo me deixava ainda mais animado e excitado para trabalhar. Posso dizer que fui a festas muito diferentes. Me recordo de duas em especial: a primeira; uma festa tipicamente americana, no bairro do Bronx, considerado o berço do rap e do hip-hop.

Uma curiosidade do bairro era que apesar de predominar o inglês e o espanhol, você conseguia identificar mais de 75 línguas diferentes nas ruas, tamanha a multiculturalidade do local, mas aquela era uma festa americana. O nome do distrito do Bronk é em homenagem a Jonas Bloch, um holandês que estabeleceu o lugar como a primeira comunidade holandesa em 1639. O Bronx possui o dobro de tamanho da ilha de Manhattan, com 109 quilômetros quadrados, apesar de possuir menos moradores.

Teoricamente, aquele seria um evento para crianças, mas tinha tantos adultos ali que parecia mais uma reunião de condomínio. Quando eu entrei fiquei assustado. Eles cantavam e dançavam freneticamente, além de beberem muito. Na verdade, acho difícil dizer um que não estava bêbado naquela festa.  O som era tão alto, diria, ensurdecedor.  A sala estava repleta de caixas de pizzas e de hamburguer. A mesa do aniversariante tinha um pequeno bolo e salgadinhos de mercado. Se não fosse por isso não se diria que ali alguém estava fazendo aniversário.

A mãe do aniversariante até tentava motivar as poucas crianças a interagir, mas estava claro que não era uma festa infantil. Haviam usado o pretexto da data para reunir a “galera”. O jeito foi colocar aqueles americanos literalmente na roda. Claudineia (Néia), minha amiga que havia sido contratada para animar a festa sacou o microfone da bolsa e deu praticamente uma ordem “Eu tenho que brincar, mas aqui quase não tem criança. A música pelo jeito vai ser essa mesmo que tá tocando, né? Então, vocês vão ser o meu público hoje”. Eles se olharam todos assustados e devem ter pensado: “Quem é essa louca vestida de palhaça dando ordem na nossa festa?”.

Por sorte, naquele dia eu havia ido só para dar suporte e não precisei vestir nenhuma fantasia porque não tenho dúvidas que eles me sufocariam ali dentro me empurrando de um lado para outro feito uma marionete. Aos poucos, Néia foi conquistando aquele público arredio com suas brincadeiras mais tradicionais, como a dança das cadeiras (eles caiam ao invés de conseguir sentar, mas se divertiam), o trenzinho, dentre outras. Tiramos literalmente leite de pedra porque o contrato era de 3 horas, mas foi algo que nunca me esqueci.  

Outro evento também inesquecível, mas por razões totalmente opostas ao do Bronx aconteceu num apartamento duplex de alto luxo de um grande empresário brasileiro casado na época com uma brasileira conhecida internacionalmente pela carreira (preservarei a identidade de ambos porque são figuras públicas). Eles nos contrataram para animar a festa da filinha que fazia 4 anos. Imaginamos que haveriam muitas crianças e muito trabalho, mas quando chegamos somente haviam duas crianças: a aniversariante e uma priminha da mesma idade. Como animar uma festa com duas crianças que não queriam brincar? E o que fazer para passar as 3 horas de show?

Só que como a família tinha muitooooo dinheiro, haviam contratado uma decoração exclusiva. A mesa estava toda decorada. Havia docinhos, bolo, lembrancinhas. Estava tudo perfeito, mas ao contrário da festa do Bronx não tinha público. E prá piorar, nesta, eu tive que usar durante as 3 horas a fantasia da Minie. Foi duro porque minha ansiedade me pedia para sair correndo dali. Era uma festa muito desanimada e chata,  confesso, e acho que numa comparação entre as duas, sem dúvida, eu ficaria com a popular do Bronx. Nem sempre o dinheiro pode comprar a felicidade.

O lado bom desta segunda festa foi que o empresário sabia que Néia era jornalista e que levaria um amigo também jornalista para ajudá-la, no caso, eu.  Ele tinha dois convites para participar de um evento super importante de Nova Iorque e nos convidou em retribuição a tudo que fizemos para animar a festinha de sua filha. O evento que seria realizado era o “Fórum das Américas”, que contaria com o então presidente do Brasil na época, Michel Temer,  e aconteceria num dos hotéis mais badalados da cidade: o Plaza Hotel, o mesmo usado no filme “Esqueceram de mim 2”.  

Hotel Plaza em Nova Iorque: suntuoso por fora e belíssimo por dentro

O convite nos permitia participar de toda cerimônia e também do jantar. Claro que não pensei duas vezes em aceitá-lo. Seria a oportunidade de estar como jornalista em um evento internacional e ainda por cima em um hotel que eu tinha o sonho de conhecer e que ficava ao lado do mágico Central Park. Seria emoção demais estar ali.

Como roteirista sempre fui fascinado por conhecer os locais de gravação de novelas, filmes e séries. Eu gostava de ver todas as etapas de gravação e seria capaz de ficar horas ali só observando. Aquele era o mundo que eu amava e queria trabalhar.  Mas antes de chegar ao hotel eu precisava de uma roupa adequada para a ocasião. Era uma cerimônia formal e exigia o uso de traje social, e eu não havia levado nenhum para os EUA. A solução foi recorrer à ajuda do ex-marido de Néia. Tínhamos mais ou menos o mesmo tamanho e corpo, e ele me emprestou terno, gravata e sapatos.

Já devidamente trajado eu estava pronto para cobrir meu primeiro evento no exterior e havia negociado com meu antigo jornal a publicação da matéria, que seria dada com exclusividade na editoria Internacional.  Começava ali minha trajetória como correspondente. Aquela reportagem exclusiva me abriu portas para outros trabalhos e projetos, como séries internacionais de jornalismo, incluindo a série “sonho americano “ (que tratarei nos próximos capítulos) e que nasceu nesta viagem.

O hotel era tudo aquilo que eu havia imaginado nos meus sonhos. Era realmente lindo. Se por fora, ele já impressionava pela beleza e suntuosidade, por dentro, ele era ainda mais charmoso e belo. Tudo era grandioso e imponente. Eu me sentia, literalmente, como se estivesse gravando um filme ali. Claro que fiz questão de tirar fotos em diferentes lugares. Mal eu sabia que anos depois, em 2022, eu teria oportunidade de voltar a Nova Iorque e visitar o mesmo hotel, mas durante o Natal, o que deixava o local ainda mais lindo. Neste retorno aos EUA fiz questão de fotografar de novo os cenários de Esqueceram de Mim, como a pista de patinação no gelo, localizada no Central Park, e o Natal deixava a atmosfera muito mais próxima da ficção retratada no filme.  

Painel de divulgação do Fórum das Américas

Mas voltando à reportagem, Néia e eu, ouvimos o discurso de Temer em português (havia tradução simultânea). Depois da cerimônia fomos conduzidos para um grande salão onde foi servido o jantar. Fomos colocados na mesa com representantes de outros países. Foi uma noite inesquecível e ao voltar para casa ainda consegui escrever a reportagem e enviei para o Brasil.

No outro dia fiquei muito orgulhoso ao ver a minha primeira reportagem internacional. Só por esse motivo a minha mudança para os EUA já havia valido a pena, pois ser correspondente era algo que me fascinava desde que entrei na faculdade de jornalismo. Como sempre gostei dos desafios, eu dizia para os meus colegas que queria estar no front, ou seja, no olho do furacão dos acontecimentos, e isso podia ser desde um evento mundial como a cobertura de uma Olimpíada, por exemplo, ou uma guerra.

O ex-presidente Michel Temer discursando no Fórum das Américas, em Nova Iorque, minha primeira reportagem internacional como correspondente
O icônico Hotel Plaza, em Nova Iorque, que serviu de cenário para o filme Esqueceram de Mim 2.
Emoção por estar participando como jornalista de minha primeira reportagem internacional
Depois de improvisar com o traje eu me sentia preparado para a cobertura do evento

Pista de patinação de gelo no Central Park, a mesma onde foram gravadas cenas do filme
Ano passado voltei à pista de patinação e relembrei do filme
Macauly em cena do filme “Esqueceram de Mim 2” no interior do hotel Plaza. Anos depois pude conhecer o local por dentro e comprovar sua suntuosidade

E já adiantando uma notícia em 1 mão, estou MUUTOOO FELIZ porque em 2024 estarei realizando um sonho como jornalista: vou para as Olimpíadas de Paris e pretendo fazer algumas matérias especiais de lá como correspondente para o Brasil. O ingresso para um dos jogos de vôlei feminino já está comprado (espero que o Brasil se classifique e que eu tenha a sorte de ver um jogo da seleção, pois há mais de 20 anos sou fanático pela seleção feminina de vôlei e acompanhei diferentes gerações de jogadoras. Sou realmente fanático por vôlei e pela seleção).  Do fundo do meu coração eu torço para que até 2024 o Brasil retome a hegemonia no vôlei internacional e que as meninas ganhem o tri olímpico. A medalha de ouro seria um presente para o consagrado técnico José Roberto Guimarães.

DICA 1: Se tiver que visitar Nova Iorque e puder escolher as estações do ano opte em visitá-la durante o Natal porque a cidade fica ainda mais linda com a iluminação natalina ou durante o Outono, onde as flores caídas no Central Park compõem um cenário indescritível. E como não poderia deixar de ser um dos filmes mais românticos de todos os tempos: “Outono em Nova Iorque” foi gravado durante esta estação. Na minha primeira vez eu estive durante o verão e definitivamente não aconselho porque o calor é insuportável e você fica desanimado para fazer qualquer coisa, por isso, aproveite o inverno ou o outono porque são estações perfeitas para caminhar.

Filme Outono em Nova York gravado no Central Park
Central Park– dezembro de 2022, antes de começar o inverno

DICA 2: Como turista e imigrante eu já havia viajado bastante para diferentes lugares, mas nunca tinha tido a oportunidade de passear naqueles ônibus turísticos. É um investimento que vale muito a pena, pois você conhece a cidade de um outro prisma, vai escutando os conselhos e curiosidades dos pontos turísticos no idioma que desejar, pode descer em diferentes pontos, explorar os lugares e depois pegar o ônibus novamente de onde parou. Sempre há duas rotas diferentes, e nesta última viagem eu AMEI ter feito isso, pois aprendi muitas coisas e conheci lugares que eu ainda não havia visitado.

Passeio turístico em Nova Iorque a bordo dos famosos ônibus de dois andares
Passeio de balsa que passa perto da Estátua da Liberdade

TIPOS DE VISTOS PARA OS ESTADOS UNIDOS

Você tem o sonho de viajar para outro país, mas tem o seu visto negado. Calma, não se desespere! Isso não significa que você não possa tentar outras vezes e ter seu pedido aprovado nas próximas tentativas. É importante entender as razões que fizeram os oficiais do Consulado negarem o seu pedido. No caso de LEANDRO, personagem relatado por mim essa semana numa reportagem exclusiva para a série “Diário de um imigrante”, os oficiais desconfiaram que ele não voltaria para o Brasil, ou seja, o seu visto de turista era apenas um pretexto para entrar no país e fixar moradia- o que não é permitido nos EUA.

Reportagem contando a travessia ilegal de um brasileiro que foi atrás do sonho americano

Desde o último dia 17 de junho os vistos de não imigrantes, caso turistas (B1/B2), ficaram mais caros. O valor passou de US$ 160  a US$ 185 (aumento de 15, 6%). O último reajuste dos valores havia sido feito em 2012. Os vistos de turista não foram os únicos que ganharam novos valores, pois eles também mudaram para intercambistas, viajantes a negócios, trabalhadores temporários, entre outros.

Os custos de candidaturas a vistos de classe H, L, O, P, Q, e R subiram de US$ 190 a US$ 205 um aumento de 7,9%. Já os BCCs (Cartão de Cruzamento de Fronteira, expedido para cidadãos mexicanos a partir de 15 anos) foram de US$ 160 a US$ 185 assim como os vistos de turistas — uma correção de 15,6%. As taxas para a categoria E passaram de US$ 205 para US$ 315, uma variação de 53,7%.

ORIENTAÇÃO: É essencial preencher corretamente o formulário DS, fornecendo informações sobre sua profissão, renda e histórico educacional. É fundamental atentar-se à data da viagem e adequá-la às circunstâncias ou indicar que ainda não há uma data definida. Um formulário bem preenchido é o primeiro passo para aumentar as chances de aprovação.

PRINCIPAIS TIPOS DE VISTOS AMERICANO

Visto de turista (B-1 / B-2)

Destinado a todos aqueles que vão viajar para os EUA a negócios ou a lazer. Os vistos de negócios B-1 são de curta duração e não podem envolver um trabalho local. Pessoas nascidas em determinados países têm autorização para visitar os EUA por até 90 dias sem a necessidade de um visto.

Visto de Tratado e Investidor (E-1 / E-2)

Esse tipo de visto serve tanto para investidores como para comerciantes e seus funcionários fazerem negócios nos EUA. Isso só é válido se seu país de origem tiver um tratado comercial com os EUA que esteja de acordo com a validade do visto, como o Brasil, por exemplo.

Visto de estudante (F-1 e M-1)

Os viajantes que querem fazer um curso completo de estudo em uma escola nos Estados Unidos podem estar aptos para um visto de estudante.

Ocupação especializada – Profissional (H-1B)

Profissionais que tenham pelo menos um diploma de bacharel ou experiência na área de ocupação podem se candidatar para esse tipo de visto. Para isso, é necessário que os empregadores realizem um pagamento de, pelo menos, o valor do salário vigente para a posição.

Visto para Intercâmbio (J-1 e Q-1)

Quem escolhe fazer um intercâmbio nos Estados Unidos pode ter direito ao visto J-1. Os programas J-1 costumam ser direcionados a alunos, acadêmicos de curta duração, professores, recém-formados, pesquisadores, especialistas, au pairs, visitantes do governo, camp counselors e o summer work and travel.

Fontes consultadas sobre os vistos: site do Consulado, e publicações da Nossa Uol e Intercultural.

Jornalista, roteirista, escritor e ator brasileiro com mais de 20 anos de experiência em comunicação.Vivo atualmente em Barcelona onde trabalho como correspondente internacional, mas já morei em outros países, como Portugal, Irlanda, EUA e Itália onde sempre estive envolvido com projetos na área de comunicação- minha grande paixão-.Como roteirista, destaco a coautoria na sinopse e no 1 capítulo da novela "O Sétimo Guardião" (TV Globo/2019), o documentário "Quem somos nós?", sobre exclusão social, e o curta-metragem "As cartas de Sofia".Como repórter, trabalhei em grandes grupos de comunicação no Brasil, como RBS, RAC e RIC. Ganhei o prêmio Yara de Comunicação (categoria impresso) em 2013 com uma reportagem sobre as diferentes famílias e histórias de vida às margens do rio Piracicaba (SP). Fui finalista do prêmio Unimed de Jornalismo/SC com uma reportagem sobre gravidez precoce.

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