” A única coisa que pesa é o que fazemos na vida. O que mais gosto não é viajar, mas viver!”. Essa é a frase que define a trajetória da espanhola Mar Lopes, que se transformou em nômade digital durante a pandemia e que já contabiliza mais de 70 países viajados.

Varanassi, cidade sagrada da Índia, um dos mais de 70 países visitados pela espanhola Mar López

Desde muito pequena ela já tinha vontade de explorar o mundo e de viver novas experiências. Ainda criança, recortava e guardava em uma pasta, fotos de turismo que encontrava numa revista mensal que sua mãe, farmacêutica, recebia, e que continha uma seção de viagens. “Eu me imaginava visitando todos aqueles lugares que apareciam ali nas reportagens e anúncios”.  Inconscientemente, ela já estava projetando o seu futuro, mas nem desconfiava que, anos depois, se transformaria em uma “nômade digital”, profissão que se fortaleceu pós-pandemia. “Eu não pensava nisso, mas já tinha esse desejo muito forte de liberdade e de flexibilidade, de não seguir um horário ou um local de trabalho fixo. Eu queria poder fazer o meu trabalho com base em objetivos e não em horários, e esta vontade tornou-se mais forte quando fui viver na Alemanha por um tempo. Para mim também foi fundamental ter flexibilidade de mesmo morando em outro país trabalhar desde a Espanha, que é a minha terra, em datas tão importantes como o Natal ou o Verão. Acho que todos esses desejos dentro de mim foram consagrados durante a pandemia”, revela a espanhola Mar López. Nos últimos dois anos, estima-se que 35 milhões de trabalhadores aderiram a essa modalidade de nômades digitais, segundo dados da Fragomen. Atualmente, há muitos países que disponibilizam o visto para nômades (ver abaixo).

Ela já carrega MAR no primeiro nome. E uma das primeiras coisas que vêm à nossa mente quando pensamos no mar é a imagem de um barco adentrando oceanos e rompendo fronteiras, e como me identifico com sua história de vida, pois também tenho o espírito cigano de desbravador de lugares, convidei Mar para uma ENTREVISTA EXCLUSIVA para a série “DIÁRIO DE UM IMIGRANTE”. Nesta nova fase do projeto, tenho intercalado os capítulos semanais com meus relatos e memórias dos cinco países onde viví com personagens reais que vivem atualmente em cada um dos países que retrato na série: Portugal, Irlanda, EUA, Itália e Espanha.

Até o momento, Mar já visitou 74 países, mas ressalta que o número ainda é baixo, pois gostaria de ter conhecido muitos outros. Ela diz ter uma pendência com o México, pois deseja se levantar entre palmeiras, esquecer que os sapatos existem, viver de biquíni e comer tacos todos os dias. “Percebi que o que mais gosto não é viajar, mas viver, sentir que aquele lugar que piso também faz parte de mim, carregar estas histórias e vivências no meu coração, minha conexão com os lugares e sua gente”.

Conte-nos curiosidades, coisas boas ou ruins, e experiências que você teve nestas viagens e que nunca esqueceu.

MAR: Visitei mais de 70 países e vivenciei um milhão de coisas diferentes. Minhas viagens me levaram a viajar no trem de minério de ferro na Mauritânia por 21 horas e não parava de chover. Isso porque lá só chove três dias por ano literalmente. Escalei um vulcão em erupção na Guatemala e foi uma das experiências mais impressionantes da minha vida. Fui a um funeral em Toraja, na Indonésia. Nadei com tubarões em Belize, e um pôr do sol em Puerto Escondido. São coisas que carrego comigo e nunca esquecerei cada um destes momentos.

Taj Mahal, Índia
Machupichu, Peru
Vulcão em erupção, Acatenanco

E alguma lembrança negativas destas viagens?

MAR: Eu nunca fico com as coisas ruins das minhas viagens, pelo contrário, eu as vejo como aprendizado e algo que vem para me ensinar. Na Costa Rica, por exemplo, eu e minha amiga estávamos voltando para casa e estávamos esperando um UBER. Saímos para a porta do bar enquanto esperávamos, e um carro parou na nossa frente dizendo que era o taxi. Decidi checar a placa e vi que não era. Nunca senti medo de viajar, mesmo viajando sozinha. Mas é importante saber onde você está e tomar as devidas precauções para se cuidar.

A vida nômade permite que você conheça pessoas de todo o mundo, diferentes culturas e costumes. Qual país mais te surpreendeu e qual te decepcionou neste ponto?

MAR: Fiquei um pouco decepcionada com o Peru, talvez porque estivesse muito lotado de turistas. Por outro lado, o que mais me surpreendeu foi o Irã. Sua comida, sua cultura, suas mesquitas, seus pistaches em todos os lugares, mas acima de tudo, o SEU POVO! Eles são maravilhosos! Um dos dias, em um ônibus noturno, conhecemos uma garota iraniana. Quando íamos descer do ônibus ela disse que nos convidaria para tomar café da manhã com ela e sua amiga.Terminamos às 7h da manhã em um parque de Isfahan sentadas no chão com aquelas meninas de uma cultura totalmente distinta da nossa tomando um café da manhã iraniano! Realmente, as pessoas de lá são simplesmente maravilhosas.

 Como você decide o itinerário da sua próxima viagem e quanto tempo, em média, fica em cada país?

MAR:  Há coisas que são importantes, como por exemplo, o local ter uma boa conexão wi-fi para que eu possa trabalhar. Isso é essencial. Obviamente, outra situação que levo em conta é a segurança.  Estou muito ansiosa e mal posso esperar para visitar o Afeganistão, mas não é uma viagem em que eu faria teletrabalhando. Outro ponto importante que eu avalio é a comunidade de nômades digitais. Atualmente há lugares em que se desenvolveu uma grande comunidade de nômades digitais, como em Chian Mai, na Tailândia, Fuerteventura na Espanha, Playa del Carmen no México e na Cidade do Cabo, na África do Sul. Outras coisas que se deve ter em mente são a abundância de serviços, como cafés ou coworking, que sejam acessíveis economicamente, além de lugares agradáveis para visitar e que me possibilitem atrações diferentes, como o surf, praia, parques, etc. A minha estadia depende muito da minha conexão ao lugar. Para o Fuerteventura, por exemplo, fui sem bilhete de regresso e acabei ficando meio ano.

Quais são os próximos países que você pretende visitar? Existe algum que seja o sonho do consumo? Você já esteve em todos os 6 continentes?

Adorei essa pergunta!  Daqui até o final do ano vou visitar sete novos países!! Vou visitar a Oceania pela primeira vez, já que irei no Festival de Mount Hagen, na Papua-Nova Guiné, (sim, adoro visitar países que os chamam de “estranhos”, mas deixamos essas histórias para outra entrevista).  Me faltaria a Antártica para completar os seis continentes.

Todas as viagens são especiais e cada uma delas têm algum ponto que está na minha lista de desejos, mas este ano vou realizar uma das viagens dos meus sonhos: Filipinas. É uma viagem que planejei mil vezes e que nunca saiu. Da última vez, eu tive que cancelar por causa da Covid. Mal posso esperar para visitá-lo!! Finalmente, poderei dar check-in na minha lista.

 A vida nômade depende muito da pessoa. Há muitos que são sociáveis, fazem amigos fáceis, mas há outros que são mais tímidos e fechados. Você fez amigos durante estes anos que esteve viajando? Acha que é possível encontrar um grande amor em uma viagem e até ficar no país por causa disso?

MAR: Adoro essa pergunta! Nas viagens, as conexões são criadas com pessoas super especiais, diferentes e as conexões são muito intensas. Conexões que você pensa: eu desejo ter essa pessoa perto de mim sempre. E esse tipo de conexão é uma das coisas que mais me ‘fisga’ para viajar. Eu também sou muito intensa. (risos). A verdade é que essas conexões são criadas em circunstâncias ‘irreais’ . Elas não são criadas no seu dia, com a sua rotina, mas isso não significa que elas não sejam reais! Adoro dizer a frase:  “a única coisa que pesa, é o que fizemos na vida”

 Você acha que se tivesse que voltar a morar e trabalhar em uma oficina com horário normal você se adaptaria a essa rotina?

MAR: Acho que o teletrabalho veio para ficar. Devo dizer que depois de tantos anos de teletrabalho, você sente falta de ter seus colegas de trabalho, cervejas pós-trabalho e uma certa rotina. Para aquelas pessoas que começam sua vida profissional ou moram em um novo lugar, acho fundamental ir ao escritório, no final, seus colegas de trabalho se tornam seus amigos, e se você é novo em uma cidade, essas conexões são fundamentais. Acho que não posso voltar à rotina de um escritório todos os dias, mas algo flexível daria para encarar. Atualmente faço uso do coworking que me permite expandir minha vida social, networking e me proporciona alguma rotina.

Como você se vê daqui a 30 anos?

MAR: Levando uma vida muito mais tranquila, com a família, mas, sem parar de viajar!  Acho que as viagens vão ser diferentes, mais tranquilas, mas não deixarei de viajar.

 Hoje, você tem uma casa, um ponto fixo onde você pode ficar quando não estiver viajando, sim?

MAR: Tenho contrato de aluguel e pago contas como todo mundo. Depois de andar tantas vezes sem casa fixa, eu precisava ter uma ‘casa’ para voltar, um lugar seguro, e é na Espanha.

Montanha 7 cores, Peru
Salara de Uyuni, Bolivia
Iron Ore Train, Mauritania
Coliseu, Itália
Shanghai, China
Auroras Boreales, Suécia

PAÍSES QUE DÃO VISTO DE NÔMADE DIGITAL

Se você quer ser um nômade digital assim como a espanhola Mar López, além das dicas que ela passou nesta reportagem é importante também avaliar se o país que você deseja trabalhar por um tempo lhe dá alguma garantia como um visto de trabalho. Na reportagem da jornalista Sabrina Bezerra para o site StatrtSe (www.startse.com), ela citou sete países que facilitam o visto para esse tipo de emprego: Indonésia, Barbados, Dubai, Espanha, Estônia, Grécia e Portugal.

  1. BALI
    Para ser um nômade digital em Bali, na Indonésia, durante 5 ou 10 anos, é necessário ter passaporte com validade mínima de 36 meses e depósito de US$ 130 mil por pessoa. 

Tegalialang em Bali, Indonésia (Foto: André Pistolesi via Getty Images)

2 – BARBADOS
O visto para nômade digital de Barbados, ilha do Caribe, tem validade máxima de 12 meses e pode ser prorrogado. Os requisitos para ter um visto de nômade digital em Barbados são: passaporte válido, dados biográficos e uma renda anual de pelo menos US$ 50 mil durante os 12 meses.


Barbados, Caribe (Foto: Getty Images Atlantide Phototravel)

3 – DUBAI

O programa “Remote Work Nomade Visa”, de Dubai, autoriza que nômades digitais permaneçam no país por até um ano. Para ser nômade digital em Dubai, você precisa de passaporte com validade mínima de 6 meses, seguro saúde com validade de cobertura nos Emirados Árabes. Se for funcionário, é necessário apresentar o comprovante de emprego e salário de, no mínimo, US$ 3500 por mês.


Jovem usando tablet digital em Dubai (Foto: valentinrussanov via Getty Images)

4 – ESPANHA

Desde janeiro de 2023, profissionais estrangeiros podem viver e trabalhar na Espanha de seis meses até um ano. O visto especial para nômade digital na Espanha tem alguns pré-requisitos, como: profissionais devem ter graduação, um mínimo de três anos de experiência profissional e uma garantia de trabalho de ao menos um ano. A renda mínima exigida é de € 1.050 mensais.

Barcelona, Sagrada Família, Espanha (Foto: Sylvain Sonnet via Getty Images)

5 – ESTÔNIA

E-Residency, visto para nômades digitais da Estônia, permite que você more e trabalhe como nômade digital por até um ano.

Os requisitos são: trabalhar para um empregador registrado em um país estrangeiro e ter um contrato de trabalho com essa empresa; ou exercer atividade comercial para uma empresa que está registrada em um país estrangeiro e da qual você é sócio; ou oferecer serviços autônomos ou de consultoria principalmente para clientes, cujos estabelecimentos permanentes estão em um país estrangeiro e com os quais você tem contratos. O salário mínimo exigido é de € 3.504 por mês.

Estônia (Foto: Pawel Toczynski via Getty Omages)

6 – GRÉCIA

Grécia está em processo de introdução de um visto especial para nômade digital. A ideia é permitir que estrangeiros dos quais tenham empregos independentes de local e fuso horário trabalhem na Grécia. O salário mínimo exigido será de € 3.500 por mês

Grécia (Foto: Sylvain Sonnet via Getty Images)

7 – PORTUGAL

As exigências para você adquirir um visto de nômade digital são: você precisa ser empreendedor, freelancer, prestador de serviço ou funcionário em trabalho remoto de empresas de qualquer país – exceto de Portugal. É necessário comprovar, no mínimo, quatro vezes o salário mínimo português, o que seria Є 2820.

Portugal (foto: Getty Images)

Fonte: StartSe (Sabrina Bezerra).

Florianópolis, a “Ilha da Magia”, em Santa Catarina, foi apontada pelo BBC Travel como uma das cinco melhores cidades do mundo para nômades digitais viverem. A capital catarinense tem aluguéis mais baratos que o Rio de Janeiro, por exemplo, empresas de tecnologia e startups, além de clima favorável e uma infinidade de belezas naturais. As outras cidades são Chiang Mai, na Tailândia, Puerto Viejo (Costa Rica), Miami (EUA) e Budapeste (Hungria).

FLORIPA ENTRE AS CINCO MELHORES CIDADES DO MUNDO

NOTA DA EDIÇÃO: Já viví em Floripa, como é carinhosamente chamada, antes de começar minha saga pelo mundo e super aconselho a cidade para quem deseja passar um tempo trabalhando ou então o resto da vida porque é apaixonante.

Florianópolis, em Santa Catarina, foi apontada como uma das 5 melhores cidades do mundo para nômades digitais viverem

Jornalista, roteirista, escritor e ator brasileiro com mais de 20 anos de experiência em comunicação.Vivo atualmente em Barcelona onde trabalho como correspondente internacional, mas já morei em outros países, como Portugal, Irlanda, EUA e Itália onde sempre estive envolvido com projetos na área de comunicação- minha grande paixão-.Como roteirista, destaco a coautoria na sinopse e no 1 capítulo da novela "O Sétimo Guardião" (TV Globo/2019), o documentário "Quem somos nós?", sobre exclusão social, e o curta-metragem "As cartas de Sofia".Como repórter, trabalhei em grandes grupos de comunicação no Brasil, como RBS, RAC e RIC. Ganhei o prêmio Yara de Comunicação (categoria impresso) em 2013 com uma reportagem sobre as diferentes famílias e histórias de vida às margens do rio Piracicaba (SP). Fui finalista do prêmio Unimed de Jornalismo/SC com uma reportagem sobre gravidez precoce.

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