Diário de um imigrante- Cap 22

Você cresce vendo filmes, novelas e séries em uma das cidades mais famosas do mundo: “Nova Iorque”, mas nem nos seus sonhos mais secretos consegue imaginar que um dia estaria ali contando histórias sobre essa cidade na perspectiva de mais um de seus milhares e milhares de personagens. Seria como uma espécie de “Crônicas de Nova Iorque”, mas sob a ótica de um jornalista e roteirista, apaixonado pelo envolvente e fascinante mundo da contação de histórias.

Estar ali naquelas ruas era algo fantástico e mágico e as pessoas só saberão disso quando tiverem a oportunidade de sentir literalmente na pele aquela atmosfera nova-iorquina, idêntica ao que você vê na TV ou no cinema. O ritmo é alucinante e frenético. É preciso disposição e muito ânimo para percorrer e desbravar cada cantinho da Big Apple (apelido da metrópole). Claro que há lugares especiais que você tem que estar porque é OBRIGATÓRIO, como a Time Square, os memorais em homenagem às antigas Torres Gêmeas, o inigualável Central Park, a Estátua da Liberdade, e por aí vai… Eu passaria horas descrevendo cada uma destes roteiros nova-iorquinos, pois há atrações para todos os gostos, estilos e poder aquisitivo, mas hoje me centrarei em duas que ganharam meu coração de imediato: a Time Square e o Central Park.

Sem dúvida nenhuma, um dos lugares que vale a pena conhecer porque realmente é INCRÍVEL é a “Time Square”. Localizada no coração de Manhattan entre a Broadway e a 7ª Avenida e entre as ruas West 42 e West 47, que formam o cruzamento mais famoso de NY. A primeira vez que estive ali, em 2010, era como se eu realmente me sentisse dentro de um cenário de filme. Eu não sabia para onde olhar. Sabe quando se solta uma criança numa loja de brinquedos? É assim que eu me sentia ali. Era tudo tão grandioso e colorido que eu fiquei realmente emocionado.

Na Times Square está localizada a NASDAQ, uma das principais bolsas de valores do mundo. Entre seus pontos comerciais mais conhecidos estão os estúdios da rede de televisão ABC, de onde o programa matinal Good Morning America é transmitido ao vivo, assim como os famosos estúdios MTV e da Virgin Records. O local possui uma das maiores concentrações da indústria do entretenimento no mundo, além de grandes lojas de famosas marcas internacionais. Os anúncios luminosos de publicidade durante a noite tornam a atração ainda mais mágica.

Times Square significa “Praça do Tempo”, e até abril de 1904 era conhecida como “Longacre Square”, nome original dado pelos colonizadores britânicos. O local teve seu nome mudado em função da construção do edifício que durante muitos anos serviu para abrigar os escritórios centrais do jornal  New York Times o Times Building, hoje conhecido como One Times Square. É um dos pontos turísticos mais visitado do mundo, com mais de 40 milhões de visitantes por ano, recebendo mais turistas do que a Estátua da Liberdade.

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Como chocólatra assumido eu sempre me esbaldo em minhas viagens, mas eu nem imaginava que teria a oportunidade de ir em plena Times Square a uma loja de um dos meus favoritos: o M&M, mas não pensem que é uma loja comum. São três andares temáticos em homenagem ao chocolate. Você tem a oportunidade de escolher os mais diferentes sabores por quilo. Isso é um perigo para quem é apaixonado por chocolate, pois você vai no embalo e começa a pegar um pouco de cada, mas quando chega ao caixa se assusta com o preço: não é nada barato, mas pense também que você não sabe quando terá uma nova oportunidade. Então, deixe para fazer economia outro dia.

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A loja tem 3 andares e você pode escolher uma variedade de sabores do famoso chocolate

Outra coisa que também me chamou muita atenção foi a loja temática do Lego. Eu sempre fui fascinado por esse jogo/brinquedo e era um dos meus passatempos com minha sobrinha e saber que eu estava dentro de uma loja montada literalmente do chão ao teto, passando pelas paredes e decoração toda feita de lego me fez voltar a ser criança.

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Tudo nesta loja é feitro com lego: do chão ao teto e às paredes
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Outro ponto de encontro obrigatório na Time Square são as escadarias vermelhas onde as pessoas fazem a tradicional foto e também de onde se pode ter uma vista privilegiada. Muitos artistas de rua, pequenos shows de danças, protestos são feitos exatamente ali. (foto abaixo).

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Time Square: aqui é um dos pontos onde todos se encontram para fazer fotos

ANO NOVO: Se você está em Nova Iorque no final do ano, um dos programas favoritos de americanos e turistas é passar a “virada do Ano Novo” na Time Square. Apesar da baixa temperatura do ano (faz muitoo frio), a festa vale a pena. Desde 1908, uma bola do tempo tem sido usada para as celebrações da véspera de Ano Novo. Trata-se de uma bola de cristal iluminada localizada em um poste no topo de um prédio que desce por um mastro para sinalizar, à meia-noite, a chegada do novo ano. Ao contrário de uma bola de tempo típica, em que o início da sua descida é utilizada como o sinal de tempo, a bola começa a descer um minuto antes, às 23:59, completando a sua descida na parte inferior do poste à meia-noite. A festa conta com a presença de milhares de pessoas e tem shows de música, fogos de artifício e chuva de papéis picados.

BROADWAY: ONDE O MUNDO DA FANTASIA REALMENTE ACONTECE

Sabe aquelas histórias clássicas que você viu nos cinemas e que sonhava em ver encenadas frente a frente num grande musical? Pois é, em plena Time Square, na Broadway, você dá asas literalmente para os seus sonhos e acaba sendo transportado para aquele mundo de fantasias. Infelizmente por questões financeiras eu não tive oportunidade em nenhuma das minhas três vezes na cidade de assistir a um espetáculo. Vontade não faltou, mas tive que priorizar outros passeios (os ingressos geralmente são bastante caros, mas às vezes você pode dar sorte e encontrar uma promoção). Sem dúvida, eu gostaria de ter visto “Alladin”, “A Bela e a Fera” e “O Fantasma da Ópera”.

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Cena do Fantasma da Ópera/ Divulgação

Broadways são “avenidas largas”, em português. E na Avenida Manhattan Street há um dos mais famosos centros de entretenimento teatral de todo o planeta. São 39 teatros profissionais que se espalham entre as ruas 42 e 53, que cortam a Manhattan Street.  As primeiras encenações aconteceram entre os séculos XVIII e XIX, quando os espetáculos burlescos, as óperas e os dramas shakespearianos comandavam os palcos. O primeiro musical a ganhar espaço veio de fora, quando um conjunto de artistas ingleses realizou a apresentação de “The Elves”. No ano de 1866, “The Black Crook” contou com o suntuoso orçamento de 25 mil dólares, uma considerável quantia para a época.

No século XX, os espetáculos musicais da Broadway dialogavam fortemente com o “american way of life” contando com temas leves e bastante divertidos. O tema político-social só apareceu naqueles palcos após a Grande Depressão, quando, em 1935, a ópera “Porgy and Bess” narrava a história de negros pobres que viviam no sul dos Estados Unidos.

Entre as décadas de 1940 e 1950, a superação da crise econômica revigorou a sustentação desses espetáculos. Em 1943, “Oklahoma!” estabeleceu o recorde de 2 mil apresentações de uma empolgante narrativa que expunha a história de amor entre um caubói e uma jovem criada na fazenda. “The Sound of Music”, de 1959, alcançou as telas de cinema do mundo inteiro, chegando ao Brasil com o imortal título de “A Noviça Rebelde”.

Nas décadas seguintes, a Broadway começou a transformar-se em uma verdadeira indústria de espetáculos buscada por espectadores do mundo inteiro. Na década de 1980, “Cats” – peça inspirada em poemas de T.S. Eliot, e o “O Fantasma da Ópera” quebraram vários recordes de bilheteria, ganharam prêmios e foram adaptadas para companhias de teatro de vários países. Já nessa época, o Tony Awards se transformou na premiação mais cobiçada por todas as peças que abarrotavam aquelas agitadas avenidas.

Atualmente, os teatros da Broadway se organizam na chamada “The Broadway League”, onde os donos das casas gerenciam a exposição de suas peças em outros lugares do mundo. Em 2009, os palcos brasileiros viveram a expectativa de abrigar uma versão do espetáculo “Hairspray”. Já nos Estados Unidos, a remontagem de “Hair”, grande sucesso dos polêmicos anos sessenta, atraiu uma bela fatia do público norte-americano.

CENTRAL PARK: IMPOSSÍVEL NÃO SE APAIXONAR

No capítulo anterior eu já havia falado um pouco sobre o Central Park, mas esse é outro ponto mágico que você precisa visitar quando estiver em Nova Iorque. Numa comparação direta seria o mesmo que ir ao Rio de Janeiro e não conhecer a praia de Copacabana ou ao menos avistar o Cristo Redentor. Já estive em Nova Iorque três vezes e faço questão de marcar presença neste lugar, que também já serviu de cenário para muitos clássicos do cinema e séries de TV. Além dos já citados “Esqueceram de mim 2” e “Outono em Nova Iorque”, muitas outras histórias inesquecíveis foram gravadas ali, como “Sexy and The City”. E não é prá menos porque cada cantinho do Central Park é inspirador e daria para criar não só uma, mas dezenas de outras histórias diferentes. Talvez por isso, os cineastas e roteiristas não cansam de colocá-lo em seus roteiros.

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Foto: Pinterest
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O Central Park no Outono é irresistível

DICA: Como eu já disse, acho que as duas melhores estações do ano para visitá-lo são no inverno e no outono, mas claro que na primavera com a chegada das flores tudo fica mais colorido e belo. Eu só retiraria desta lista o verão porque realmente faz muitoooo calor e para caminhar por toda sua extensão seria bastante cansativo, a não ser que você decida desembolsar um pouco mais de dólares e passear de charretes, mas estes passeios não costumam ser baratos. Eu economizaria para fazer outras coisas.

Eu sou completamente apaixonado e suspeito para falar sobre esse lugar porque absolutamente tudo me encanta neste parque. É um dos lugares mais lindos, charmosos e românticos que conheço, sem contar a gama de opções que ele te oferece. Você pode passar o dia com amigos fazendo um belo picnic, manter o corpo em forma correndo, caminhando ou andando de bicicleta, se distrair e se emocionar vendo os artistas de rua em suas mais variadas performances e apresentações, marcar um encontro amoroso, ler um bom livro….

Central Park (em português: Parque Central) é um grande parque dentro da cidade de Nova Iorque. Possui uma área de 3,41 km² e está localizado no distrito de Manhattam. Foi o primeiro parque público nos Estados Unidos, inaugurado em 1857, e é considerado, por muitos nova-iorquinos, um oásis dentro da grande floresta de arranha-céus existente na região. É um lugar onde as pessoas podem diminuir o ritmo frenético de Nova Iorque.

Com os aproximadamente 42 milhões de visitantes anualmente, o Central Park é o parque mais visitado da cidade. Embora o parque pareça natural, na verdade, ele é ajardinado quase inteiramente e contém diversos lagos artificiais, trilhas para caminhadas, duas pistas de patinação gelo, um santuário vivo e campos diversos. Considerado pelo Guiness Book o “lado verde” de Nova Iorque, o parque foi projetado para dar um clima aconchegante à cidade para contrabalancear os arranhas-céus espalhados por todos os lugares.

Planejamento

Entre 1821 e 1855, Nova Iorque quase quadruplicou em população. Conforme a cidade expandiu-se para o norte de Manhattan, a população recorria às poucas áreas abertas para momentos de lazer. Ainda que não fizesse parte do Plano de Comissários, a região onde hoje se encontra o Central Park foi levantada e mapeada pelo engenheiro John Randel, Jr., cujos vestígios deste levantamento ainda são visíveis e preservados no interior do parque.

Após uma tentativa abortada em 1850 de desapropriar uma fazenda, a Legislatura do Estado de Nova Iorque designou uma área de mais de 700 acres (ou 280 hectares) para a construção do parque, com custo estimado em 5 milhões de

O DIREITO À IGUALDADE E A LUTA PELO FIM DO PRECONCEITO

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Essa foto me diz muita coisa porque foi tirada em um momento muito complicado de minha vida, mas também decisivo para mais um reinício

Quero também abrir uma brecha neste capítulo para retomar dois temas que foram omitidos dos episódios anteriores em função da narrativa linear dos episódios, mas que são muito importantes e que representam esse projeto, pois foi a partir deles que tive a ideia de contar minha trajetória de “cigano pelo mundo” com a criação da série “DIÁRIO DE UM IMIGRANTE”. O primeiro deles, sem dúvida, seria o complexo pela falta de cabelo e o uso de próteses, causas que me levaram a sair do país pela primeira vez em 2001 e me mudar para Portugal. E, o segundo, tão importante quanto, refere-se ao bullying que sofri em grande parte da minha infância e adolescência e que foram fundamentais para que eu criasse um escudo protetor que me ajudou na vida adulta a me proteger de qualquer ataque ou preconceito. Ironicamente, isso me fortaleceu e me fez tornar um militante contra a intolerância sexual.

 Este Diário nasceu dessa necessidade pessoal que eu tinha de desabafar, de falar sobre coisas do meu passado que estavam travadas dentro de mim há muitos anos. Muitos podem se perguntar: “mas qual o meu interesse em saber sobre os seus dramas ou problemas pessoais?” Teoricamente nenhum e está tudo bem, mas é que eu que acredito muito na lei do retorno, no bumerangue da vida, ou seja, somos reflexos de nossas ações, e o que plantamos aqui, seguramente, colheremos aqui. Então, se fazemos o bem, receberemos do universo o bem. Pode até demorar, mas uma hora ou outra a chave do nosso destino pode mudar.

Particularmente, eu creio que os meus relatos trazem problemas e acontecimentos que não foram somente vividos por mim, pelo contrário, muita coisa que passei ou vivi pode ter acontecido com outras pessoas, por isso, falar sobre cicatrizes é tão importante e necessário, pois são elas que nos moldam para o futuro, ou seja, cada cicatriz conta um pouco sobre a gente e são estas histórias que carregamos para a vida. E o Diário tem essa função de discutir essa questão da diversidade em cada um dos países que eu vivi, pois foram experiências diferentes.  

Este projeto começou justamente num ponto decisivo da minha vida, em 2001, quando eu precisava libertar-me de um complexo interior que me atormentava há anos: o uso de próteses capilares. Eu não me reconhecia com aquilo. Era como se tivesse um corpo estranho me acompanhando e me atormentando.

Mas somente quem tem ou já passou por bullying e por complexos de inferioridade pode entender o que isso significa, principalmente as marcas que você carregará para o resto da vida. E no meu caso, o complexo foi tão forte que me levou a atravessar um oceano para me libertar do meu problema particular em outro país.

Hoje, quando olho para trás respiro aliviado. É algo que ficou no passado. Assim que deixei aquela prótese no banheiro do aeroporto de Lisboa, em 2001, eu estava não somente me libertando do meu maior drama pessoal, mas também rompendo barreiras e sendo eu mesmo pela primeira vez. Acho que ali o André se fortalecia como pessoa, profissional, como homem, como filho, como irmão, tio, como dono de meus desejos e senhor do meu destino, pois eu estava reescrevendo minha nova história. Se errei? Sim, muitas e muitas vezes, mas nada me impediu de continuar lutando por meus sonhos e de ser eu mesmo. Quebrei a cara muitas vezes, mas sabe que não me arrependo de nada? Se não tivesse sido assim eu não teria crescido tanto e dado todos os passos que dei até hoje. Estou vivendo no meu quinto país e posso lhes garantir que faria tudo de novo só pra ter essa oportunidade de viver coisas diferentes.  

Para quem está acompanhando desde o 1 capítulo do Diário pode ter estranhado o fato de eu ter omitido o “problema” do cabelo nos episódios seguintes, mas é que realmente, pouco a pouco aquilo foi deixando de ter tanta importância na minha vida e comecei a gostar de mim com meu novo visual. E, hoje, passados mais de duas décadas, posso dizer que a imagem que visualizo no espelho me agrada muito porque não tenho mais medo de ser o que sou. A bruxa má do espelho não tem mais poder sobre mim (sim, durante muitos anos eu evitava me olhar diretamente no espelho e dormia com um boné.).  Hoje, a bruxa foi sepultada.

É preciso esclarecer também alguns pontos pós a minha primeira vez em Portugal e que eu ainda não havia comentado: no retorno ao Brasil e após o rompimento definitivo com Déa, anos depois, fiz alguns procedimentos estéticos que não deram o resultado que eu queria. Depois de retirar as próteses, fiz transplantes capilares, mas como minha área doadora era muito restrita, o resultado ficou longe do que eu esperava (mas eu ia disfarçando com o cabelo que cresceu). Tempos depois, o próprio cabelo dos transplantes começou a cair também e decidi recorrer à micropigmentação capilar (fiz várias sessões e ficaram estranhas). Há dois anos somente que encontrei uma clínica boa em Barcelona, na Espanha, e refiz toda a cabeça (isso depois de submeter-me a várias sessões de laser para retirar os procedimentos anteriores).

CONSELHO: Se você quer ou sonha em fazer um procedimento estético pense bem, avalie a clínica, os profissionais, os clientes que já fizeram, pois o “barato pode sair caro”, mas no meu caso nem foi isso, mas sim, a escolha de profissionais errados (no caso das micropigmentações anteriores). Só eu sei a DOR que eu passei há dois anos para tirar tudo aquilo com laser. Eu saia chorando das sessões, pois a dor é insuportável e parece que na cabeça potencializa muito mais. Foi, sem dúvida, a pior dor física que eu senti. Ia saía chorando das sessões de laser e pensava que ia desmaiar de tanta dor.

Apesar de ter vencido o trauma das próteses, sempre busquei estar bem comigo mesmo e como eu sabia que podia melhorar o que havia feito no passado, mesmo estando liberto do complexo maior, algumas coisas ainda me incomodavam na minha aparência e sou super adepto e aberto às mudanças. Se você não está feliz, lute para mudar o que te incomoda. Sem dúvida, se eu tivesse que citar o meu maior dos sete pecados, a vaidade viria em primeiro plano. Mas também me dou um desconto: eu perdi os cabelos com menos de 18 anos. Nunca tive oportunidade de fazer um penteado, passar gel, etc, e quando vi que podia recuperar um pouco da autoestima perdida por que não fazê-la? No filme “Seven”, a vaidade seria a minha principal ruína.  

COMO O BULLYING AFETA TODA UMA VIDA E COMO COMBATÊ-LO

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Essa imagem transmite bem o que o bullying gera em uma das vítimas

Outra razão que me fez escrever esse Diário foi também que ele servisse como um alerta para ajudar outros garotos e garotas, assim como suas famílias que passaram, passam ou passarão por LGBTfobia. Esse é um assunto muito sério e delicado, pois pessoas morrem diariamente no Brasil simplesmente por ódio. Somos o país líder mundial no assassinato da população LGBTQIA+. Elas são vítimas de uma sociedade machista, retrógrada e despreparada para aceitar as diferenças quando SER DIFERENTE É SER NORMAL!

No meu caso particular, eu precisei passar por uma grande decepção amorosa para descobrir e aceitar minha própria verdade: que eu era gay e que isso só dizia respeito à mim. Se durante muitos anos eu me escondi dentro de uma personagem, a vida me fez ver que essa omissão só me fez perder tempo. Por outro lado, também creio que as coisas acontecem quando têm que acontecer, e talvez eu tivesse que ter passado por tudo que passei pra chegar a esse estágio hoje de poder falar livremente sobre esse  tema com o objetivo de ajudar outros jovens com relação ao seu próprio processo de aceitação.

Prá começo de conversa eu lhes digo: não é fácil! E talvez por isso muita gente acaba se escondendo por muitos e muitos anos e vivendo uma realidade oculta. Eu agradeço a Deus e ao falecido Orkut que deixei aberto e que fez minha irmã descobrir minha sexualidade no passado. E foi graças a esse (in) cidente que pude começar a ser eu mesmo: sem máscaras e sem medo de ser julgado por gostar ou sentir-me atraído por uma pessoa do mesmo sexo.

Amor, atração e desejo não se comercializam.  Se sente e ponto! Eu me dei o direito de sentir e ser feliz com minhas escolhas, mas antes disso passei muito bullying, principalmente na infância e adolescência quando eu não tinha definido nada sobre minha sexualidade e onde minha cabeça fervilhava como um caldeirão. Eram muitas dúvidas, incertezas, medo, insegurança e pânico de não ser aceito, e como dói você lutar contra algo que muitas pessoas tentam te vender como impróprio, imoral ou como “algo que não é de Deus”, quando o que mais queremos é amar. E como é bom amar e ser amado sem rótulos ou disfarces.

Mas até chegar a esse ponto eu tive que lutar muitoooo, muitoooo e muitoooo. Foram anos de frustração, de impotência, de luta interior contra mim mesmo. Eu sentia algo diferente, mas por medo me reprimia de ser eu mesmo. Tinha medo da minha família, dos amigos, da sociedade. Tinha medo de ser diferente quando isso não era nenhum crime. E esse mesmo medo é o que afeta milhões e milhões de jovens em todo mundo.

Como roteirista, tenho que agradecer aos escritores de todo mundo, e me incluo nesse time, que batalharam e ainda batalham por escrever histórias que retratem essa luta por aceitação, por diversidade e por inclusão. A bandeira que levantamos é a do amor independente da sexualidade. Ainda no campo do cinema, destacaria o tocante “Orações para Bobby”. Nele, a católica devota Mary Griffith tenta “curar” o filho homossexual Bobby, mas ele acaba se suicidando com a pressão da sociedade e a mãe se torna defensora dos direitos gays.

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Cena tocante do delicado e sensível Orações para Bobby

Já na teledramaturgia, eu destacaria algumas tramas que mostraram a homossexualidade como ela deveria ser: algo normal e inserida na nossa sociedade. Isso não devia ser mais um tema a ser debatido, mas se servir ao menos para diminuir o preconceito e a violência contra a população acredito que ainda deva continuar em pauta. Uma das novelas que mais destacou isso foi “Insensato Coração” que teve a morte de um jovem rapaz que era gay (vivido pelo ator Miguel Roncatto) por homofobia.

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Ator Miguel Roncato em cena da novela Insensato Coração. Personagem gay foi morto por homofobia/ Reprodução TV Globo

Também destaco como um avanço na teledramaturgia a personagem Ivana/ Ivan interpretada pela atriz Carol Duarte na novela “Força de um Querer”, e que contribuiu para que o tema da transexualidade fosse debatido abertamente no principal horário da TV brasileira e no produto de maior audiência: a telenovela.

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Atriz Carol Duarte em cena icônica da novela Força de um Querer/ Reprodução TV Globo

Apesar de importantes avanços obtidos com a discussão de temas gays, recentemente, a TV Globo (principal produtora nacional de teledramaturgia) ensaiou um retorno a censura com vetos a beijos gays em novelas e séries contribuindo para um retrocesso num tema que já havia avançado. Fiz uma reportagem especial sobre isso.

Pra finalizar esse tema, por hoje, queria deixar um pensamento e ao mesmo tempo um questionamento. Estamos neste mundo como meros passageiros de uma viagem que tem dia e hora determinada para acabar- pelo menos neste plano espiritual. Alguns têm a sorte e a dádiva de viverem muitos e muitos anos. Outros, infelizmente, se vão muitos jovens. Não sabemos quando será a nossa despedida e tampouco a das pessoas que amamos.

Com isso, temos que viver hoje como se não existisse amanhã, e nesta luta pela vida temos que batalhar para fazer o bem e deixar um legado positivo. Por isso, vamos nos preocupar menos com a vida das outras pessoas e nos preocuparmos mais com as nossas ações. O meu direito começa onde termina o seu e vice-versa.

E viva à igualdade, à diversidade, a um mundo mais justo e igualitário onde as pessoas sejam aceitas sem nenhum tipo de discriminação ou preconceito. Viver é o nosso melhor presente. Vamos celebrar isso hoje porque não sabemos o que virá amanhã.

Encerro com uma frase da minha musa inspiradora Clarice Lispector, escrita no livro Perto do Coração Selvagem, em 1977. “Liberdade é pouco. O que desejo para mim não tem nome”.

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Frase que diz muito prá mim e que move minha luta pela igualdade

Jornalista, roteirista, escritor e ator brasileiro com mais de 20 anos de experiência em comunicação.Vivo atualmente em Barcelona onde trabalho como correspondente internacional, mas já morei em outros países, como Portugal, Irlanda, EUA e Itália onde sempre estive envolvido com projetos na área de comunicação- minha grande paixão-.Como roteirista, destaco a coautoria na sinopse e no 1 capítulo da novela "O Sétimo Guardião" (TV Globo/2019), o documentário "Quem somos nós?", sobre exclusão social, e o curta-metragem "As cartas de Sofia".Como repórter, trabalhei em grandes grupos de comunicação no Brasil, como RBS, RAC e RIC. Ganhei o prêmio Yara de Comunicação (categoria impresso) em 2013 com uma reportagem sobre as diferentes famílias e histórias de vida às margens do rio Piracicaba (SP). Fui finalista do prêmio Unimed de Jornalismo/SC com uma reportagem sobre gravidez precoce.

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