Diário de um imigrante- Cap 23

Sempre fui seguidor de um ditado popular que não me recordo ao certo quando ouvi pela primeira vez, mas possivelmente foi em alguma novela. O ditado dizia: “se tá na chuva é prá se molhar”! E eu acabei incorporando essa frase à minha vida e fazendo dela um dos meus lemas particulares. Para quem me acompanhou até aqui- esse já é o capítulo 23, percebeu que carrego literalmente no meu sobrenome a palavra aventura. Posso até estar morrendo de medo, mas vem uma adrenalina mais forte do que eu mesmo e que me impulsiona a fazer loucuras que eu nunca pensei que seria capaz de fazê-las (algumas não serão compartilhadas aqui por razões óbvias, rs).
Mas na minha vida de “cigano pelo mundo” eu já aprontei muitas coisas e tive experiências incríveis que entraram para sempre nas minhas memórias afetivas. Uma delas, sem dúvida, foi a emoção de ver a neve pela primeira vez, em Dublin, na Irlanda, em 2008, e já relatada aqui em episódios anteriores, mas tem outra também que entrou para a minha galeria especial: a minha primeira patinação no gelo! E assim como o primeiro beijo, é algo que não se esquece.
E que lugar mais apropriado para fazer essa estreia na patinação que Nova Iorque? A cidade respira atração e vida por todos os lados. E, no inverno, com as ruas, parques e até mesmo rios tomados pela neve, o clima é ainda mais charmoso e propício. Eu cresci vendo alguns filmes na “Sessão da Tarde” com cenas de patinação e aquilo me encantava de tal forma que eu queria entrar na tela da TV e sair patinando, ou melhor, bailando, e claro com uma trilha bem romântica de fundo porque senão eu não seria um bom canceriano, não é mesmo? Afinal de contas não há signo mais romântico que Câncer.
Em 1992, eu já era um adulto, mas voltei a ser criança com as peripécias e aventuras do Kevin, personagem do ator Macalau Culkin na sequência de “Esqueceram de Mim 2”, em Nova Iorque, mas eu nem imaginava que um dia o universo conspiraria para que eu estivesse ali no mesmo lugar dele. Era alegria demais. Eu sabia que a sequência do filme havia sido gravada na pista de patinação localizada no Central Park, mas ali perto também havia uma outra muito famosa: no Rockefeller Center.
Um dos meus amigos do intercâmbio, Wilson, era equatoriano, e ele sabia desse meu sonho de patinar, e partiu dele o convite para que fôssemos em uma pista. Nessa mesma época Fernando havia chegado para me visitar por uma semana e fomos os três juntos. Apesar de estar com muita vontade de patinar eu sabia que havia muito risco de cair. Numa porcentagem de 0 a 100, o meu risco de queda era 100 (hahaha), pois eu até havia tentado me equilibrar no passado em patins, mas acabei desistindo porque sabia que quebraria um braço ou uma perna. E no gelo tudo parecia ainda mais difícil. Eu olhava aqueles patins e eles me olhavam. Era um jogo. “Te visto e você me leva?”. E ele retrucava: “Posso tentar, mas você sabe que não faço milagre e você vai se espatifar”. “Ah tá julgando que eu não sou capaz? Você nem me conhece!”. “Não preciso julgá-lo. Tá na sua cara que você tá se borrando de medo”.
A conversa poderia continuar por horas e não íamos chegar a nenhum consenso. Eu não queria dar o braço a torcer, mas a verdade é que eu realmente estava com muitooo medo de cair e me machucar. Por outro lado, quando eu via aquele povo todo deslizando pela pista suavemente como um pássaro solto no ar eu pensava: “Se eles podem eu também posso. Caso eu caia um tombo não há de ser nada. Levanto com a maior cara de pau e sigo em frente”. Wilson me encorajava dizendo que o único obstáculo que eu tinha que vencer era o medo, e que se caso eu o vencesse deslizaria pela pista como os outros. Decidi arriscar-me e daí vem o ditado da chuva que eu coloquei no início deste capítulo. Realmente eu ia me jogar naquela chuva com força total. Já que estava ali não tinha como recuar.
Por sorte, toda pista em sua extensão era cercada por corrimões. Eles foram a minha salvação no início porque quando calcei os patins e me coloquei de pé parecia um pato perdido e empacado no meio do rio e que tinha medo de nadar. Neste caso, meu temor era de patinar, mas eu não podia fazer feio para meu amigo que tinha me levado carinhosamente até ali. Falávamos o básico em inglês e ele também falava castelhano que era mais fácil de entender, e eu preferia, pois instruções de patinagem em inglês já era pedir demais prá mim. Seria demais pedir para que eu me concentrasse em ficar de pé naquele troço apavorante sem cair e ao mesmo tempo pensasse em inglês. Então, eu abusava do velho portunhol e todos nos entendíamos.
Definitivamente a minha coragem havia desaparecido naquela tarde. Pela primeira vez na vida eu ia desistir de um desafio sem arriscar-me e eu já tava a ponto de fazer isso quando vi um senhor circulando só pelas bordas e usando o corrimão. Bingo! Era isso que eu ia fazer. Iria treinar bastante no corrimão arriscando-me a soltar a mão algumas vezes até ter coragem de me aventurar pela pista sem usar o corrimão. O problema era que assim como eu haviam outros que também estavam na mesma situação e utilizavam o ferro como proteção. Ele era o nosso escudo contra o vexame público. Consegui me equilibrar sem cair mais ou menos por uns 20 minutos e quando vi Fernando se atrevendo a ir sem segurar eu pensei: “Vai ficar muito feio se eu passar a minha hora toda aqui neste corrimão. O Fer foi, então, não deve ser tão difícil”.
Ah, muitas vezes, meus pensamentos são minha ruína, rs, e me colocam em maus lençóis. Quis ser competitivo e me joguei na pista. Bastou menos de um minuto eu tinha me espatifado no gelo e caído em cima do braço. Na hora pensei: “morri”, mas ao abrir os olhos eu vi que estava bem vivo, mas agora tinha uma dor me incomodando bastante, pois com a queda acabei caindo em cima do meu braço direito e não podia movê-lo, justo o meu braço que já havia sido quebrado no passado.
Em 1994, cai de mobilete e tive quase uma fratura exposta. Acabei desmaiando de dor e fui levado para o hospital. Moral da história: tive que operar esse braço duas vezes depois do acidente e até hoje ainda tenho mobilidade diferenciada no meu punho e dói bastante quando escrevo com caneta ou lápis porque força ou quando estou digitando. No caso do incidente em Nova Iorque eu não sentia que havia quebrado, mas mesmo assim era uma dor chata. Coube a Wilson e Fernando chamarem um assistente para me levar até a enfermaria. Quando ele chegou, Wilson e o assistente me abraçaram um de cada lado e foram me levando. Naquele momento eu esqueci qualquer dor, pois eu me sentia na gravação de um filme. Finalmente eu estava patinando.
Ao chegar na enfermaria eles olharam meu braço e disseram que não fazia falta fazer radiografia, pois se tivesse quebrado eu estaria gritando de dor. Achei muito ruim o atendimento no geral. Primeiro porque acho que deviam haver assistentes por toda a pista ajudando as pessoas que nunca patinaram, pois pode realmente acontecer um acidente mais sério. Só que no caso o que mais importa ali é vender o ingresso. Eles não estão preocupados com nossa segurança. Também não havia outros itens como joelheiras e capacetes. Se havia não nos foi oferecido. Hoje, creio que deve ter mudado a política. Outro erro que vejo como grave é um paciente ser levado para a enfermaria e eles não tirarem um raio X. Graças a Deus foi mais o susto e eu não havia quebrado nada, mas eu não era médico para saber. Por precaução deviam fazer radiografia, mas seria inocência minha imaginar que eles teriam ali um ortopedista de plantão e uma máquina de raio X. Eu estava nos EUA. Tempo é dinheiro ali. Caso acontecesse algo mais sério eles deviam encaminhar para um hospital mais próximo.
Resumindo: meu sonho de patinar saiu um pouco frustrado. Desde então nunca mais me atrevi a tentar de novo. Mas, no ano passado na minha visita à Nova Iorque, decidi visitar a famosa pista de Rockefeler que já havia sido cenário de filmes também e vi uma cena muitoooo linda que valeu todo o frio que passei para estar ali. Era algo de cinema e que acalentou o meu coração que estava um pouco triste naqueles dias e não era só pelo rigoroso frio de dezembro (contarei mais detalhes nos episódios da Espanha em 2022).
Mas no ano passado, a cena que me emocionou era digna de um filme. Pode ser que minha mente de cinéfilo esteja falhando e não me recordo de nenhum filme agora com uma cena semelhante (se alguém souber, por favor, comente porque quero colocar imagens da história). Na cena real, um jovem casal patinava tranquilamente na pista ao lado de outras pessoas. Fazia bastante frio naquela noite. Já era quase 8 horas e parei do lado de fora para vê-los.
As pessoas foram saindo todas de uma vez e se colocando nas extremidades da pista. Ficaram somente os dois jovens. Um assistente da pista foi até o rapaz e lhe entregou um microfone e voltou para a recepção. O rapaz deu uma volta em toda a pista e sua namorada ficou totalmente estática parada bem no meio sem saber o que estava acontecendo. Acho que deve ter pensado que era alguma pegadinha ou que o seu namorado havia surtado, mas quando começou a tocar “Love is in the air”, creio que ela deve ter sacado que se tratava de uma surpresa feita para ela.
E assim começou a declaração de amor mais linda que eu vi na minha vida em tempo real. Ao mesmo tempo que tocava a música ao fundo ele ia relembrando momentos deles juntos até o ponto que se ajoelhou aos seus pés, tirou uma aliança do bolso e a pediu em casamento. Claro que a pobre coitada nem podia dizer não poque senão ia ser massacrada pela multidão que já se aglomerava no local. O sim dela selava para sempre uma linda história de amor. Não sei se já casaram, mas desejo que aquele casal seja muitoooo feliz, pois sou um romântico incorrigível e apesar de tantas decepções amorosas que a vida me fez passar continuo acreditando no amor de um conto de fadas ou que seja eterno enquanto houver amor porque vale muito a pena amar e ser amado, e ver essa cena em Nova Iorque me fez pensar mais ainda sobre isso.
CUMPRINDO UM DOS SONHOS DE MINHA MÃE
Pedido de mãe não se nega nunca, não é mesmo? Ainda mais quando você sabe que será muito difícil para ela realizar alguns sonhos e que por isso ela acaba depositando muitas expectativas em você. Já relatei aqui em capítulos anteriores que a vida de minha mãe sofreu uma reviravolta aos 36 anos quando ela foi atropelada por dois menores de idade tirando um racha. Com o acidente, perdeu o movimento dos pés e só conseguia se locomover com a ajuda de muletas e próteses, mas mesmo assim tinha muita dificuldade para caminhar, além de dores constantes nos joelhos causadas pelo excesso de peso. Mas nada a fez desistir de viver, de lutar e de sonhar. Mesmo deficiente, ela ainda planejava um dia fazer um cruzeiro com toda família ou viajar pelo Brasil a bordo de uma furgoneta.
E esse sonho dela se fortaleceu após assistir a novela “Ana Raio e Zé Trovão” (extinta TV Manchete) na qual os atores se revezavam em diferentes locações pelo Brasil. Essa alma cigana que tenho, seguramente, é herança de minha mãe, pois meu pai não é nem um pouco aventureiro. Sou 100 % minha mãe em tudo: do gênio às ações.
As sequelas do acidente a impediram durante muitos anos de fazer algumas coisas, mas ela nunca perdeu a alma criança, por isso, no livro que escrevi em sua homenagem existe um capítulo chamado “Peter Pan de saias”. Ela era a adulta que não queria crescer e que recusava pensar num fim. Esse era o seu maior medo, e também, confesso, passou a ser o meu.
Quando ela soube que eu iria passar um tempo estudando nos EUA me fez um pedido que, na verdade, era uma ordem: que eu revirasse Nova Iorque até encontrar a padaria onde eram gravadas algumas cenas de um programa de culinário famoso de um chef americano. Ela era muito fã desse culinarista. Não perdia nenhum programa. Gravava e depois replicava as receitas em casa.
Apesar da mobilidade reduzida, um dos seus grandes prazeres, e pode-se dizer o maior de todos, era cozinhar. Como ficava muito tempo em casa passava o resto do dia buscando receitas para experimentar no final de semana, sejam salgadas ou doces. E como tinha o coração muito bom fazia os pratos e saia distribuindo para toda família e vizinhança. Os bolos de aniversário ficavam sob sua responsabilidade. Ela passava dias pesquisando as receitas.
Então, ao saber que eu estaria tão próximo de um dos seus ídolos- era fã também da Ana Maria Braga e da saudosa Palmirinha Onofre-, me pediu para que eu fosse até a loja, fizesse fotos e gravasse vídeos dos doces. Seu fraco eram eles. Apesar de cozinhar de TUDO e muitooo bem, sua maior tentação eram realmente os doces. Eram eles que faziam seus olhos verdes brilharem. Deixei para buscar essa padaria quando Fernando estivesse ali, pois ele era muito melhor com os mapas e GPS do que eu, e acharia mais fácil os lugares. Eu até chegaria, mas levaria mais tempo porque não tenho paciência de ficar buscando ruas em outro idioma. Isso me faz recordar as inúmeras vezes que me perdi em Dublin, pois lá os nomes de ruas, em grande maioria, são todos com números, o que dificulta ainda mais.
Encontrar o endereço não foi muito difícil, pois estava bem localizado. O mais complicado foi ser atendido porque havia uma fila muito grande de clientes, com certeza, porque pensavam que ele estaria ali e queriam fazer uma foto. Outra dificuldade que tive foi escolher apenas um doce. Era algo impossível, pois a variedade era tanto que eu fiquei perdido.
Meu desejo era provar cada um deles, mas eu iria à falência porque não eram nada baratos. Por sorte, eu sabia que Fernando ia pedir dois e que mal ia comer um (ele sempre fazia isso, rs). Ao contrário de mim e de minha mãe, o forte dele eram os salgados. Já eu deixava tudo por uma boa sobremesa. Até nisso eu havia puxado à minha mãe. No total, acabei provando cinco diferentes sobremesas- três que eu pedi e as duas do Fernando. A minha desculpa esfarrapada era que tinha que fazer os vídeos para minha mãe. Com sonho de mãe não se brinca. Assim que viajei criei um grupo secreto no Facebook chamado “Diário de Nova Iorque”, e era lá que eu postava todas as minhas fotos e vídeos, e naquela tarde quando voltei para casa todas as minhas atualizações foram sobre essa visita gastronômica e calórica, mas eu estava feliz por saber que havia alegrado o coraçãozinho da minha mãe.
A Agência Brasil publicou uma reportagem ontem (16 de agosto) destacando o aumento de quase 40 % na emissão de vistos de turismo e negócios para os EUA este ano. No primeiro semestre de 2023, os Estados Unidos concederam 547 mil vistos para brasileiros. Um crescimento de 34,8% em relação ao mesmo período do ano passado. Desses, 516,8 mil são destinados para turismo e negócios, 38,7% a mais que no primeiro semestre de 2022. Os dados são de um levantamento feito pelo escritório de advocacia imigratória AG Immigration, que fica em Washington, com base em números do Departamento de Estado americano – equivalente ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil.
EMISSÃO DE VISTO DE TURISMO PARA OS EUA CRESCE QUASE 40 %
O advogado de imigração e sócio da AG Immigration, Felipe Alexandre, explica que parte desse aumento é em razão da ampliação do atendimento ao público feita pela embaixada e consulados dos Estados Unidos no Brasil. Mas ele acrescenta que essa alta também é justificada “pela base de comparação, já que, em 2022, a emissão ainda estava se recuperando do período de quase dois anos em que ficou paralisada em razão da pandemia, que interrompeu os serviços imigratórios”.
O Brasil foi o terceiro país que mais recebeu vistos nos primeiros seis meses do ano, ficando atrás de México (1,3 milhão) e Índia (783,8 mil). Colômbia (261,5 mil) e China (254 mil) completam as cinco primeiras colocações. Na sequência dos tipos de vistos americanos mais emitidos para brasileiros no primeiro semestre aparecem os para intercâmbio cultural e profissional, com 5,4 mil autorizações, e os de estudante, com 4,3 mil concessões.
Efeito dólar
Felipe Alexandre avalia que a desvalorização do dólar frente ao real ajuda o interessado em ir para o exterior, mas o efeito não é tão grande para explicar a procura pelos vistos “já que câmbio segue em patamares elevados, e os vistos que foram emitidos no primeiro semestre deste ano foram solicitados ao longo de 2022, quando a moeda americana ainda estava mais cara”.
O economista e professor do Ibmec Gilberto Braga avalia que o dólar deva flutuar pouco abaixo dos R$ 5, no cenário atual de queda de juros no Brasil e aumento nos países desenvolvidos. “Essa combinação faz com que parte dos investidores estrangeiros que têm dólar prefiram fazer investimentos em mercados mais seguros em detrimento de uma rentabilidade que começa a cair no Brasil”, pondera, acrescentando que o câmbio é muito volátil a notícias conjunturais, como relacionadas à guerra na Ucrânia e sobre o comportamento da economia de países como China e Estados Unidos.
Frente a essa expectativa de volatilidade, o economista sugere que pessoas que tenham planos de viagens nos próximos meses já adquiram a moeda estrangeira, em vez de esperar por mais desvalorização. “Sempre acho que a pessoa que tem um recurso e já está decidida a viajar, estando o preço dentro dos objetivos dela, deve comprar”, ressaltando que o uso de “dinheiro digital”, como cartões e celular costuma ser mais prático e seguro que a moeda física.
Pedido de visto
O brasileiro que tiver interesse em solicitar visto americano deve buscar agendamento no site da da embaixada americana. Há representações em Brasília, Porto Alegre, no Recife, Rio de Janeiro e em São Paulo.
Cada modalidade de visto tem um prazo específico para concessão. Alguns levam poucos dias. A categoria de turismo e negócios é a que tem os maiores períodos de espera. Ontem, por exemplo, o prazo variava de 226 dias em Porto Alegre a 28 dias em Brasília. No site da embaixada americana há também informações sobre agendamento de emergência, em casos como a morte de um parente próximo, doença grave ou tratamento médico urgente nos Estados Unidos.
Alguns casos dispensam entrevistas na embaixada ou consulados. Por exemplo, para quem vai renovar o visto ou cujo documento expirou nos últimos 48 meses. Os solicitantes com idade inferior a 14 anos ou superior a 79 anos também podem solicitar o visto sem uma entrevista.
FONTE: Agência Brasil
