“Eu não saberia viver de outra forma que não fosse com a música. Tá no meu DNA e é minha razão de viver”, declara o brasileiro Rafael Carmo, um violinista que vem fazendo história na França e encantando e emocionando pessoas com o seu talento

“Não consigo escrever poesia: não sou poeta. Não consigo dispor as palavras com tal arte que elas reflitam as sombras e a luz, não sou pintor… Mas consigo fazer tudo isso com a música”. A célebre frase de Mozart sintetiza bem a importância e o significado que a música tem na vida de muitas pessoas. Alguns vão mais longe ainda: atribuem a ela o poder de cura, de transformar destinos e ressaltam que a música é como o ar que respiram. Tal paixão é desencadeada de diferentes formas, e no caso do brasileiro Rafael Carmo, ela nasceu ainda na infância e foi se fortalecendo com o tempo a ponto de ser sua principal razão de viver. “Eu não me vejo fazendo outra coisa que não seja tocando”. Carmo vive há sete anos em Paris e vem colhendo ao longo dos últimos anos uma série de conquistas importantes, como ser um dos únicos brasileiros convidados para tocar na Orquestra Nacional da França- algo que nem em seus maiores sonhos ele podia imaginar. A trajetória de Carmo, principalmente de como ele foi parar na França inaugura minha mais nova série: “Sonho Francês”-escrevi sonho americano, sonho italiano e sonho espanhol. Esta série falará de brasileiros que vivem hoje na França e é minha homenagem ao país que sedia os Jogos Olímpicos de 2024.

Aos 35 anos, quando ele fecha os olhos e faz uma retrospectiva de sua trajetória é como se um filme passasse por sua cabeça. Nascido em Curitiba, capital do Paraná, Carmo confessa que nasceu literalmente em um berço musical. Sua mãe era pianista e o irmão tocava saxofone, e o amor pela música foi uma consequência inevitável e prazerosa. “Desde os meus cinco anos eu já tinha contato direto com a música. Cresci naquele ambiente, e aos seis anos, depois de assistir à uma apresentação da Sinfônica do Paraná e ao ver pessoas tocando violino eu decidi que aquele seria o meu caminho na arte e não parei mais de estudar”.  

Ele conta que teve total apoio da família para ingressar na carreira e a primeira formação universitária aconteceu ainda no Paraná na conceituada e tradicional Faculdade de Belas Artes, em 2011- uma das mais prestigiadas do país. Graduou-se como bacharel em violino.  Um ano depois decidiu mudar toda sua vida ao passar em um concurso público da Orquestra Estadual do Nordeste. Mudou-se para o estado do Sergipe e trabalhou ali como violinista por cinco anos. “Foi uma grande escola para mim. Ali eu tive a oportunidade de exercitar na prática tudo aquilo que a universidade tinha me trazido de conhecimentos”. Fascinado pelo aprendizado Carmo decidiu ter uma nova formação e fez licenciatura em Música na Universidade Estadual do Sergipe.

Só que ele tinha planos mais ousados e ambiciosos para sua carreira: sonhava em ter no currículo uma oportunidade internacional. Como tinha um irmão morando nos EUA pensou em mudar para o estado de Boston e ali fazer um mestrado e depois doutorado, mas não descartou outras opções. Além dos EUA, aplicou também para estudar na Inglaterra, Portugal, e por último em Paris, e foi justamente na capital francesa que seu pedido de bolsa foi aprovado.“Foi aí que caiu minha ficha. Eu ia para um outro país totalmente diferente do Brasil. Ia respirar música, mas não falava nenhuma palavra em francês”, relembra.

MUDANÇA: No entanto, a partir do momento que soube que iria para Paris, Carmo diz que começou a estudar um pouco do idioma para não chegar ali sem nenhuma base. Ele aponta que teve receio desta mudança porque era algo totalmente novo, mas ao mesmo tempo a perspectiva de ter uma vida nova em outro continente o fascinava. Porém, ele teve que fazer também um exercício interno de adaptação porque depois de anos sem estudar teria que regressar aos estudos e ainda manter o pique de estudante. “A adaptação no início nunca é um processo fácil. Você tem um impacto cultural da língua que te limita em muitos pontos. Aliado a isso, você tem que conviver com uma cultura muito diferente da sua e tradicionalmente, os franceses são conhecidos como um povo mais frio com estrangeiros. Tudo isso foram coisas que tive que ir me adaptando para viver aquele sonho francês”.

Como a bolsa cobria as mensalidades, inicialmente, Carmo não teve a preocupação de buscar um trabalho imediato. O que lhe ajudou também foi o fato de ter conseguido economizar nos últimos anos- fruto de ser concursado público. Sua intenção era viver da música em Paris. E as oportunidades não demoraram para aparecer e o famoso “boca a boca” foi fazendo com  que ele começasse a ficar conhecido na cidade. Surgiram os primeiros eventos e o brasileiro já familiarizado com o idioma também começou a dar aulas de violino. Mas para conquistar este espaço e reconhecimento, Carmo diz que fez muitos eventos gratuitos porque isso era importante para conquistar um portfólio- algo muito valorizado pelos franceses. “Aqui quando você entra numa rede de parceiros, eles começam a te indicar para os serviços e as próprias agências te buscam. Isso é legal porque nunca falta trabalho”.

Junto à essa rede, Carmo aponta também outro ponto fundamental para o desenrolar de sua carreira em terras francesas: o boom que Paris passou nos últimos anos, principalmente por causa de grandes estrelas do futebol que foram jogar na cidade, como Neymar e Marquinhos, por exemplo. “Fui convidado para tocar na casa do jogador Marquinhos. Lá estava o Neymar e outros jogadores famosos. Eles gostaram muito do meu trabalho e foram me indicando para outros eventos. Criei um círculo de amizades e de parceiros bem grande em Paris e isso foi fundamental para o meu crescimento profissional”.   

ROTINA: Nestes sete anos de Paris, Carmo acumulou muita experiência e participou de diferentes eventos: de casamentos a festas temáticas, aniversários, dentre outros. Segundo ele, algo que tem sido muito recorrente são os pedidos surpresa de casamento que foram se tornando cada vez mais grandiosos. Esqueçam os pedidos simples e troca de alianças. Hoje, muitos noivos optam em tornar esse momento inesquecível e preparam realmente uma festa com iluminação, bebida e músicos. “É um momento único que eles têm para eternizar aquela data e por isso não poupam na estrutura”. Hoje, 60 % dos seus clientes são estrangeiros. Os americanos lideram a lista de clientes, seguidos pelos asiáticos, brasileiros e franceses.

Totalmente adaptado e feliz à vida francesa, o brasileiro ressalta que não se arrepende por ter feito a escolha de deixar o Brasil e estudar em um outro continente porque isso lhe abriu portas profissionais que ele nunca imaginou conquistar um dia, aliás, até sonhou, mas sabia que era um sonho mais distante para um imigrante brasileiro no exterior. “A minha paixão pela música me deu tudo o que tenho e sou hoje. Devo tudo à música”. E ele não se restringe a tocar somente na França, pois já teve experiência em outros países, como em Veneza, na Itália, tudo graças ao seu trabalho apaixonado pela arte de encantar e tocar corações com a música.

Ao relembrar seu passado, Carmo diz que algo que o marcou muito foi um conselho que ouviu antes de embarcar para Paris de um antigo maestro com quem havia trabalhado no Brasil. Na época, de acordo com ele, esse senhor tentou fazer com que ele desistisse do seu sonho aconselhando-o a permanecer no país. “Você ali nunca conseguirá se sobressair frente a tanta gente. Será apenas mais um no meio de tantos, uma pessoa praticamente invisível. Mas eu não o ouvi. Segui em frente o meu sonho e por três anos seguidos fui convidado a tocar em uma das maiores orquestras do mundo. Imagina se eu tivesse recuado lá atrás? Sonhos são para ser vividos e eu vivo meu sonho em sua plenitude”.

Faltando poucos dias para a abertura oficial das Olimpíadas de Paris 2024, Carmo se diz empolgado pela grande festa que está sendo preparada pelos franceses. Ele está estudando um convite para tocar em uma das embarcações que desfilará na cerimônia. “Foi um convite que apareceu de surpresa e ainda não sei se será autorizado pelo Comitê Olímpico, mas só de estar ali já vai ser mágico”.

CONTATO: Carmo tem um site ( www.violiniostparis.com) e uma conta no Instagram (violinist_paris), onde disponibiliza fotos e vídeos do seu trabalho como violinista. Caso queira contratá-lo para um evento particular basta enviar um WhatsApp para +33753475083.

Créditos: Elizaveta Fotógrafa
Lihn – Throught the glass Photohrapher
Lika Romanko
Crédito : Ana Fotógrafa. Aqui, Rafa estava tocando em Veneza, na Itália

Jornalista, roteirista, escritor e ator brasileiro com mais de 20 anos de experiência em comunicação.Vivo atualmente em Barcelona onde trabalho como correspondente internacional, mas já morei em outros países, como Portugal, Irlanda, EUA e Itália onde sempre estive envolvido com projetos na área de comunicação- minha grande paixão-.Como roteirista, destaco a coautoria na sinopse e no 1 capítulo da novela "O Sétimo Guardião" (TV Globo/2019), o documentário "Quem somos nós?", sobre exclusão social, e o curta-metragem "As cartas de Sofia".Como repórter, trabalhei em grandes grupos de comunicação no Brasil, como RBS, RAC e RIC. Ganhei o prêmio Yara de Comunicação (categoria impresso) em 2013 com uma reportagem sobre as diferentes famílias e histórias de vida às margens do rio Piracicaba (SP). Fui finalista do prêmio Unimed de Jornalismo/SC com uma reportagem sobre gravidez precoce.

Leave a Reply

Your email address will not be published. Required fields are marked *